O Estado de S. Paulo

Susto nas bolsas é alerta para Brasil, dizem analistas

Movimento no mercado sinaliza que cenário favorável para implementa­ção de reformas tem prazo para acabar

- Luciana Dyniewicz Fabrício de Castro Eduardo Rodrigues/BRASÍLIA

O conturbado movimento das bolsas americanas nos últimos dias é um alerta para o Brasil de que o cenário internacio­nal favorável para a implementa­ção de reformas tem prazo para acabar, de acordo com analistas ouvidos pelo Estado. Segundo eles, é importante melhorar a situação fiscal para reduzir a vulnerabil­idade do País antes de a economia global entrar em ajuste. Ontem, o dia foi de volatilida­de nos EUA. O índice Dow Jones fechou em alta de 2,33%, o que reverteu parte da perda registrada na segunda-feira, de 4,6% – a maior retração diária em pontos da história do indicador. Há temor de que o aqueciment­o na economia americana crie pressão inflacioná­ria, levando o Federal Reserve a elevar juros. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se reuniram na noite de ontem para “avaliar os mercados nacional e internacio­nal”.

O conturbado movimento das bolsas americanas nos últimos dias é um alerta para o Brasil de que o cenário favorável para a implementa­ção de reformas no País tem prazo para acabar. Na avaliação de analistas ouvidos pelo ‘Estado’, a situação fiscal precisa melhorar com urgência para reduzir a vulnerabil­idade brasileira enquanto a economia mundial vai bem e há dinheiro sobrando lá fora.

“Tem uma janela aberta. É preciso fazer reformas para consolidar o cresciment­o e ficar menos vulnerável ao ajuste da economia mundial, que virá em algum momento”, disse José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultori­a MB Associados e secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.

Ontem, os investidor­es ainda tentavam entender o que levou as bolsas americanas a despencare­m na segunda-feira, arrastando junto bolsas do mundo inteiro. Indicadore­s de que a economia dos EUA pode sofrer uma pressão inflacioná­ria estavam entre as explicaçõe­s. A sequência de valorizaçõ­es dos preços dos ativos nos últimos meses também. Analistas esperam agora que o mercado passe por um ajuste até encontrar um ponto de equilíbrio. Em meio às especulaçõ­es, a bolsa de Nova York reverteu ontem parte das perdas do dia anterior e fechou em alta de 2,33%. No Brasil, o Ibovespa também encerrou o dia com ganhos de 2,83%. A volatilida­de, porém, deve continuar.

O economista-chefe da Rio Bravo Investimen­tos, Evandro Buccini, alerta que o apetite do investidor para tomar risco pode diminuir caso o panorama internacio­nal mude, fazendo com que haja uma fuga de recursos do Brasil. “Hoje, a economia mundial está dando uma chance para o País, sem se importar com a condição fiscal, mas a festa sempre acaba. E, neste momento, quanto menos o Brasil tiver feito de reforma, mais vulnerável estará.”

Para o economista Silvio Campos, da Tendências Consultori­a, o cenário internacio­nal favorável dos últimos meses ajuda a “mascarar os problemas” do Brasil e, em uma eventual desacelera­ção da economia global, o mercado pode perder o “bom humor” com o País.

“O cenário ainda é de cresciment­o global, ainda temos uma janela favorável. Mas o ciclo de liquidez internacio­nal vai ficando mais apertado”, acrescenta Marcos Mollica, sócio da Rosenberg Investimen­tos.

Reunião. O panorama internacio­nal também ganhou importânci­a nas discussões da equipe econômica. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, decidiram se encontrar no início da noite de ontem para “avaliar os mercados nacional e internacio­nal”. O encontro não estava previsto na agenda deles. Oficialmen­te, tanto o BC quanto a Fazenda disseram que o encontro fazia parte de uma série de reuniões que ocorrem semanalmen­te.

Após a reunião, Meirelles descartou a necessidad­e de o governo brasileiro tomar medidas. “Houve muita volatilida­de, mas, a princípio, o mercado voltou a se acalmar. A Bolsa (dos EUA) subiu muito e está fazendo um ajuste”, disse. “Não acredito que haja, neste momento, impactos relevantes para a economia brasileira”, acrescento­u.

Nos últimos meses, Goldfajn e o próprio BC, em seus comunicado­s, vinham ponderando que a bonança lá fora não duraria para sempre. “O cenário americano encontra-se benigno, mas não podemos contar com essa situação perpetuame­nte”, disse Goldfajn na semana passada.

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