Sem reparos, viaduto desaba
Incidente aconteceu seis anos após Tribunal de Contas do DF destacar, em relatório, necessidade de reparo e manutenção urgente do local
Um viaduto do Eixo Rodoviário de Brasília, que corta o Plano Piloto, desabou ontem, sem deixar feridos. Quatro carros foram esmagados. Há seis anos, o Tribunal de Contas apontava necessidade de reparo urgente. “Brasília é uma cidade que está envelhecendo”, disse o governador, Rodrigo Rollemberg (PSB).
Parte de um viaduto do Eixo Rodoviário de Brasília – o chamado Eixão, principal via que corta os 14 quilômetros de extensão do Plano Piloto – desabou às 11h45 de ontem, horário de grande movimento de tráfego, sem deixar vítimas. Quatro carros estacionados embaixo da pista foram esmagados. A queda do vão ainda danificou um restaurante que funcionava entre os pilares da estrutura. O refeitório abriria as portas ao meio-dia.
O incidente aconteceu seis anos após o Tribunal de Contas do Distrito Federal destacar, em relatório, a necessidade de reparo e manutenção urgente do local, sete anos depois de o Conselho Regional de Engenharia pedir vistorias imediatas e passados seis meses da publicação de um estudo do Sindicato de Engenharia e Arquitetura que exigia atenção do governo de Brasília para as rachaduras.
Em 2014, o governador Agnelo Queiroz (PT) apresentou o documento Matriz de Responsabilidades, chancelado pela Fifa, que considerava o sistema viário da área central da cidade em perfeitas condições de estrutura. Sem esconder a tensão, o atual governador, Rodrigo Rollemberg (PSB), admitiu que já tinha informações sobre problemas do viaduto. Em entrevista após o desabamento, prometeu a liberação de R$ 1,4 milhão para tirar o entulho e reconstruir a estrutura. “Desde o início do nosso governo fizemos manutenção em oito viadutos. Seis tiveram reforço da estrutura, infelizmente esse não recebeu manutenção. Brasília é uma cidade que está envelhecendo”, disse.
O Eixão cruza o Eixo Monumental – via onde está a Catedral e os prédios da Esplanada dos Ministérios, formando o “sinal da cruz”, na definição do urbanista Lúcio Costa, autor do Plano Piloto. O viaduto é um trecho do Eixão próximo ao Buraco do Tatu, passagem subterrânea, no marco zero da cidade, que liga as duas asas de quadras residenciais. Embaixo do viaduto funciona a Galeria dos Estados, um centro comercial planejado por Costa para ser a Times Square brasiliense. O lugar hoje abriga apenas alguns restaurantes populares e bares que atendem trabalhadores dos setores bancário e de autarquias sul, áreas da cidade onde estão os prédios do Banco Central, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, da Polícia Federal e de tribunais de Justiça.
Riscos. Oficiais dos bombeiros ouvidos pelo Estado afirmaram que há riscos de novos desabamentos em todo o complexo de pistas, marquises e da grande plataforma localizada no centro da cidade, onde está a rodoviária, que começou a ser construído no fim dos anos 1950. Setores dos bombeiros e da Defesa Civil pediram ao governo uma vistoria ampla de todo o sistema viário, que apresenta fendas, concreto e ferros expostos e infiltrações. A reconstrução do viaduto levará pelo menos seis meses.
Em 2017, o Detran do DF arrecadou R$ 433 milhões – recurso que pode ser usado em educação ou folha de pessoal. Resolução do Conatran que não virou lei permite uso para obras.