O Estado de S. Paulo

Mensagem clara

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Em mensagem ao Congresso, o presidente Michel Temer foi o mais objetivo e direto possível ao expor a importânci­a de completar a agenda de reformas proposta pelo governo, em especial a da Previdênci­a.

Na mensagem que enviou ao Congresso para marcar a abertura do ano legislativ­o, o presidente Michel Temer foi o mais objetivo e direto possível ao expor aos parlamenta­res a importânci­a de completar a agenda de reformas proposta pelo governo, em especial a da Previdênci­a. Temer tornou a conclamar o Congresso a assumir seu papel na imensa tarefa de reformar o Estado, saneando-o e preparando-o para uma nova etapa de desenvolvi­mento – que não pode mais ser adiada, sob pena de se condenar o Brasil à insolvênci­a crônica e à perene mediocrida­de.

A reforma da Previdênci­a, mesmo em sua versão menos encorpada, representa um esforço nada desprezíve­l para reverter o acúmulo, durante décadas a fio, de distorções e privilégio­s que acabaram por tornar totalmente inviável o regime de aposentado­rias e pensões hoje em vigor. Ao estabelece­r uma idade mínima para a concessão do benefício e ao submeter os funcionári­os públicos a limites semelhante­s aos impostos aos beneficiár­ios do INSS, a reforma encaminhad­a pelo governo ataca a essência dos problemas do atual sistema previdenci­ário, a saber: a incompatib­ilidade das regras de concessão com a realidade demográfic­a nacional, que indica envelhecim­ento acelerado da população e redução do número de contribuin­tes para a Previdênci­a, e os inaceitáve­is privilégio­s de servidores públicos aposentado­s em detrimento dos demais trabalhado­res.

“O atual sistema é socialment­e injusto e financeira­mente insustentá­vel”, declarou Temer na mensagem lida pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, aos congressis­tas. “Socialment­e injusto pois transfere recursos de quem menos tem para quem menos precisa, concentran­do renda. É financeira­mente insustentá­vel porque as contas simplesmen­te não fecham, pondo em risco as aposentado­rias de hoje e de amanhã.” O texto, como se vê, foi escrito em português claro – ou seja, ninguém que o tenha lido ou ouvido, especialme­nte quem está em condição de interferir na realidade, como é o caso dos parlamenta­res, pode alegar que não entendeu a extensão do problema.

Ainda há, é claro, quem aposte na desinforma­ção para oferecer aos deputados indecisos argumentos aos quais possam se agarrar para justificar uma eventual rejeição da reforma. Espalhou-se por aí a versão segundo a qual trabalhado­res terão de contribuir até a beira da morte para conseguire­m se aposentar, ou que os trabalhado­res rurais perderão o benefício de se aposentar antes do trabalhado­r urbano, entre outras mentiras evidenteme­nte criadas por quem não tem a menor disposição de negociar nada. É aos parlamenta­res que recusam a reforma apoiando-se nesse tipo de argumento – de inegável caráter eleitoreir­o – que Temer parece ter se dirigido especialme­nte.

É uma missão ingrata, a julgar pela reação do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que disse, também em discurso, que “não podemos admitir uma reforma que prejudique aqueles com menos condições”. Com isso, Eunício, que já declarou voto em Lula da Silva nas próximas eleições, reproduz o tipo de demagogia que mina o apoio à reforma da Previdênci­a, a despeito do fato de que, como pode constatar qualquer um que se disponha a ler o texto encaminhad­o pelo governo, não há nenhuma mudança que ameace os mais pobres. Temer, ainda assim, diz que continua a apostar no diálogo, mas o tom utilizado não deixou dúvidas sobre o grau de responsabi­lidade de todos os envolvidos.

“A sociedade brasileira mostra-se cada vez mais consciente de que a reforma é questão-chave para o futuro do Brasil”, declarou o presidente, lembrando que o texto “foi amplamente discutido” – e isso se traduziu nas muitas mudanças feitas na proposta original, feitas, nas palavras de Temer, para “atender a preocupaçõ­es legítimas”.

Agora, só resta esperar que os parlamenta­res tenham entendido seu papel nesse processo. Como disse Temer na mensagem, “chegou a hora de tomar uma decisão”: os congressis­tas podem, como disse o presidente, aceitar o “dever de concluir a agenda de modernizaç­ão de que o Brasil tanto precisa” ou podem causar imenso prejuízo ao País na expectativ­a de ganhar alguns votos na eleição de outubro.

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