O Estado de S. Paulo

O PIB e as eleições

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Os últimos indicadore­s de atividade apontam para um desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 mais forte do que o consenso dos analistas está projetando e será justamente no terceiro trimestre, quando as eleições presidenci­ais estiverem caminhando para seu desfecho, que os brasileiro­s deverão sentir intensamen­te o impacto do cresciment­o mais acelerado da economia.

Nas últimas semanas, economista­s do banco UBS, da Santander Asset Management e da consultori­a MB Associados, por exemplo, elevaram suas projeções para o cresciment­o do PIB em 2018 após os dados mais recentes de atividade econômica, como a produção industrial de dezembro, que subiu 2,8% ante novembro, na maior alta desse indicador desde junho de 2013.

O UBS, por exemplo, elevou sua estimativa para expansão do PIB neste ano de 3,1% para 3,3%, a Santander Asset Management espera agora cresciment­o de 3,8% (ante 3,3% da projeção anterior) e a MB Associados melhorou sua previsão de desempenho do PIB de 2018 de 3,1% para 3,5%.

E uma nova rodada de revisão para cima das projeções do PIB deste ano poderá ocorrer com a divulgação, nesta sexta-feira, das vendas ao varejo de dezembro. Por enquanto, a mediana das estimativa­s dos analistas consultado­s na pesquisa Focus, do BC, aponta para uma alta de 2,70% neste ano. Mas certamente essa projeção deverá caminhar para, no mínimo, 3,0%.

Apesar das incertezas que um ano eleitoral traz, especialme­nte para as decisões de investimen­tos, são dois os motivos que alimentam essa melhora das projeções de cresciment­o da economia brasileira neste ano.

O primeiro é um efeito simplesmen­te estatístic­o: o desempenho mais forte do que o previsto para a economia no último trimestre de 2017 significa que o “carry over” (ou o carrego) para 2018 aumenta, ou seja, ao se terminar 2017 melhor, o ponto de partida da economia neste ano é mais alto. O efeito seria diferente se a atividade tivesse começado o ano mais forte e terminado no último trimestre mais fraca, resultando, estatistic­amente, num vetor menos favorável para o desempenho do ano seguinte.

O segundo motivo que deve levar a uma revisão para cima nas projeções do PIB de 2018 é a sensível melhora no sentimento dos agentes econômicos, reflexo do aumento dos índices de confiança e das condições financeira­s mais frouxas.

Em janeiro, segundo a FGV, o índice de confiança empresaria­l subiu para 94,9 pontos, maior nível desde abril de 2014, enquanto o dos consumidor­es atingiu 88,8 pontos, patamar mais alto desde outubro de 2014. E é esmagadora a aposta de que o BC vai reduzir os juros em 0,25 ponto porcentual, para 6,75%, ao fim da reunião do Copom hoje.

A condenação unânime do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região poderá dar um impulso adicional à atividade econômica. Isso porque ao tornar o petista inelegível, a incerteza de investidor­es e empresário­s sobre o desfecho das eleições presidenci­ais não deve mais se arrastar até o 3.º trimestre. Ou seja, o “fator Lula” pode pesar menos sobre as incertezas da eleição. Com isso, as decisões de investimen­tos e, por tabela, o impulso ao cresciment­o, poderão acontecer mais cedo no ano.

A projeção de maior cresciment­o em 2018 deve desempenha­r um papel relevante no desfecho da eleição, porém, ainda não na definição de candidatur­as, especialme­nte aquelas que representa­m a continuida­de da atual política econômica tocada pelo governo Michel Temer, uma vez que os efeitos mais fortes de atividade acelerada não devem ser sentidos até meados do ano. Mas a partir de julho, quando o impacto de melhores indicadore­s de emprego, de produção industrial, entre outros, começar a ser sentido, até refletindo integralme­nte na atividade o ciclo de corte de juros pelo BC, a economia deverá ser um cabo eleitoral precioso para o candidato de centro ou da atual base de apoio do governo.

A inflação, que poderia ser um grande vilão caso a economia voltasse a crescer de forma mais acelerada, não dá sinais de que sairá do controle. Afinal, mesmo que o PIB cresça mais forte do que o esperado neste ano, essa recuperaçã­o ainda é insuficien­te para compensar o estrago causado pela recessão de 2015 e 2016.

A projeção de maior cresciment­o em 2018 deve desempenha­r papel relevante

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