As vilãs ocupam lugar de honra na dramaturgia
Como mexe com a emoção do público, a obra precisa ter a quem amar e a quem odiar. Uma ficção só de sentimentos positivos seria um porre. Uma só com gente baixo astral, idem. O ideal é a mistura balanceada e é isso que os roteiristas buscam. Heróis carismáticos contracenando com vilões fortes.
Muitas vilãs ficaram famosas na história do cinema. São milhares, mas como esquecer Alex Forrest (Glenn Close), de Atração Fatal, pesadelo para o homem casado que pula a cerca? Ou a maquiavélica editora de moda Miranda Priestly (Meryl Streep), de O Diabo Veste Prada?
Mas se for para eleger um clássico da vilania, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? figura na ponta da lista. A campeã seria Bette Davis no papel da atriz frustrada e envelhecida que atormenta a irmã paraplégica (Joan Crawford), chegando ao requinte de servir-lhe um rato na refeição!
A relação de ódio entre as duas saía da ficção e avançava pela vida real. Tanto assim que viraram personagens da ótima minissérie em oito capítulos Feud: Bette and Joan, exibida na Fox. A série tem por centro justamente a filmagem de Baby Jane, dirigida em 1962 por Robert Aldrich. O set era um campo de batalha onde os egos duelavam a cada dia. A rixa entre as divas, já enorme em si, era ainda estimulada pelo diretor, a mando do produtor, o mitológico Jack Warner (Stanley Tucci).
Na concepção de Warner, barracos entre atrizes atiçam a curiosidade mórbida do público e geram mais bilheteria para o filme. Este sim era um vilão de almanaque, porém agindo nos bastidores.