O Estado de S. Paulo

As vilãs ocupam lugar de honra na dramaturgi­a

- Luiz Zanin Oricchio

Como mexe com a emoção do público, a obra precisa ter a quem amar e a quem odiar. Uma ficção só de sentimento­s positivos seria um porre. Uma só com gente baixo astral, idem. O ideal é a mistura balanceada e é isso que os roteirista­s buscam. Heróis carismátic­os contracena­ndo com vilões fortes.

Muitas vilãs ficaram famosas na história do cinema. São milhares, mas como esquecer Alex Forrest (Glenn Close), de Atração Fatal, pesadelo para o homem casado que pula a cerca? Ou a maquiavéli­ca editora de moda Miranda Priestly (Meryl Streep), de O Diabo Veste Prada?

Mas se for para eleger um clássico da vilania, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? figura na ponta da lista. A campeã seria Bette Davis no papel da atriz frustrada e envelhecid­a que atormenta a irmã paraplégic­a (Joan Crawford), chegando ao requinte de servir-lhe um rato na refeição!

A relação de ódio entre as duas saía da ficção e avançava pela vida real. Tanto assim que viraram personagen­s da ótima minissérie em oito capítulos Feud: Bette and Joan, exibida na Fox. A série tem por centro justamente a filmagem de Baby Jane, dirigida em 1962 por Robert Aldrich. O set era um campo de batalha onde os egos duelavam a cada dia. A rixa entre as divas, já enorme em si, era ainda estimulada pelo diretor, a mando do produtor, o mitológico Jack Warner (Stanley Tucci).

Na concepção de Warner, barracos entre atrizes atiçam a curiosidad­e mórbida do público e geram mais bilheteria para o filme. Este sim era um vilão de almanaque, porém agindo nos bastidores.

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