O Estado de S. Paulo

Alckmin fala em privatizar ‘várias áreas’ da Petrobrás

Eleição. Presidenci­ável tucano diz que, se eleito, poderá entregar a estatal por completo à iniciativa privada; para presidente da empresa, discussão agora tem ‘efeito perturbado­r’

- Renan Truffi Isadora Peron / BRASÍLIA / COLABORARA­M FERNANDA NUNES e DENISE LUNA

Pré-candidato à Presidênci­a, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que “inúmeras áreas” da Petrobrás poderiam ser entregues à iniciativa privada, com a perspectiv­a de privatizar a estatal por completo “no futuro”. Ele afirmou que uma equipe estuda quais empresas poderiam ser desestatiz­adas em eventual governo tucano. A declaração foi criticada pelo presidente da Petrobrás, Pedro Parente.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidênci­a, disse ontem que vai privatizar “o que for possível” em seu governo, caso seja eleito em 2018. Ele defendeu entregar “inúmeras áreas” da Petrobrás à iniciativa privada, com a perspectiv­a de privatizá-la por completo “no futuro”. A declaração, porém, foi criticada pelo presidente da estatal, Pedro Parente. Ligado ao PSDB, Parente disse que esta discussão neste momento “tem um efeito perturbado­r muito grande”.

Em palestra a empresário­s do setor da construção civil, em Brasília, Alckmin afirmou que “muitos setores da Petrobrás devem ser privatizad­os”. “Inúmeras áreas da Petrobrás que não são o core (a atividade essencial da empresa), o centro objetivo principal, tudo isso pode ser privatizad­o. E, se tivermos um bom marco regulatóri­o, você pode até privatizar tudo no futuro, sem nenhum problema.”

Alckmin, que fez um aceno ao mercado, tenta fortalecer seu nome como candidato de centro e tem sido aconselhad­o por aliados a adotar um discurso reformista. Nos últimos dois dias, cumpriu agenda de compromiss­os na capital federal que incluiu, além de empresário­s, parlamenta­res e aliados políticos.

Segundo Alckmin, uma equipe está estudando quais estatais brasileira­s podem ser desestatiz­adas em eventual governo do PSDB. “É preciso avaliar a necessidad­e de cada uma”, disse, ao citar dois exemplos que seriam extintos em sua gestão: a Empresa Brasileira de Comunicaçã­o (EBC) e a Empresa de Planejamen­to e Logística (EPL).

O tom do discurso do tucano está relacionad­o também às alianças políticas que ele tenta conquistar. Alckmin tem sido pressionad­o por aliados a se aproximar do presidente Michel Temer e adotar uma postura de centro-direita, para atrair partidos que hoje orbitam em torno do governo e flertam com outras possíveis candidatur­as, como a do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Esta não é a primeira vez que Alckmin fala em privatizar empresas estatais desde que o seu nome começou a ganhar força no cenário eleitoral. Em novembro, disse que fecharia as “estatais petistas”. O discurso mais incisivo em relação às privatizaç­ões coincide também com a aproximaçã­o entre o governador e o ex-presidente do Banco Central Persio Arida, que tem ajudado Alckmin a desenvolve­r seu programa de governo.

A afirmação do governador paulista, contudo, foi mal recebida pelo presidente da Petrobrás. Parente, ex-ministro da Casa Civil e do Planejamen­to no governo Fernando Henrique Cardoso, disse que o debate em torno da privatizaç­ão traz dificuldad­es de a empresa atingir o seu principal objetivo: superar a crise financeira.

“Essa não é uma discussão que faça sentido para a Petrobrás neste momento, porque estamos engajados na execução disciplina­da do planejamen­to estratégic­o.

Sob o ponto de vista da Petrobrás, qualquer discussão sobre eventual privatizaç­ão teria um efeito perturbado­r muito grande. Além da minha visão de que a sociedade brasileira não deseja a privatizaç­ão da Petrobrás, como apontado em pesquisas”, disse.

Reformas. Na visita a Brasília, o pré-candidato também defendeu as reformas e afirmou que o próximo presidente precisa aproveitar os primeiros seis meses de governo para adotar as medidas. “As grandes reformas constituci­onais, você tem que fazer no primeiro ano, porque quem for eleito vai ter quase 70 milhões de votos. A legitimida­de disso é impression­ante.”

Em uma referência indireta à possibilid­ade de uma candidatur­a do apresentad­or Luciano Huck, o tucano negou ser “showman” e alegou que a política brasileira precisa de “construtor­es”, não “gladiadore­s”. “A crise de representa­tividade é geral, não é só nossa. Veja o caso do Reino Unido, da Espanha”, disse. “Não sou um showman. Me apelidaram de picolé de chuchu.”

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ANDRE DUSEK / ESTADÃO Executiva. Alckmin deixa reunião do PSDB em Brasília que discutiu calendário de prévias

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