O Estado de S. Paulo

Criança morre após ‘desafio do desodorant­e’

Suspeita é de que criança de 7 anos tenha participad­o de ‘desafio do aerossol’, divulgado nas redes sociais; caso ocorreu em São Bernardo

- Isabela Palhares Fábio de Castro

Uma menina de 7 anos morreu no sábado, em São Bernardo do Campo, depois de inalar desodorant­e aerossol, desmaiar e ter uma parada cardiorres­piratória. Crianças e jovens aparecem em vídeos na internet fazendo o “desafio do desodorant­e”. Algumas dicas ajudam pais a monitorar os conteúdos vistos pelos filhos.

Uma menina de 7 anos morreu no sábado depois de inalar desodorant­e aerossol em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. De acordo com a família, Adrielly Gonçalves participav­a do ‘desafio do desodorant­e’, que havia visto nas redes sociais, quando desmaiou e teve uma parada cardíaca.

O desafio, dizem os parentes da garota, consiste em inalar o desodorant­e e manter a boca fechada pelo máximo de tempo. A mãe da criança, Márcia Gonçalves, de 39 anos, conta que a filha passou a sexta-feira brincando na vizinha e à noite voltou para casa, onde ficou sob o cuidado dos irmãos mais velhos.

“Cheguei em casa e a encontrei deitada de bruços na minha cama. Achei que ela estava dormindo, até porque já eram 2 horas. Tomei um banho e fui deitar do lado dela. Foi quando percebi um forte cheiro de desodorant­e e vi que ela estava desmaiada”, conta a mãe, que é motorista de ônibus e trabalhava na escala noturna quando a menina morreu.

Segundo a prefeitura de São Bernardo, a menina recebeu atendiment­o às 4 horas, com parada cardiorres­piratória, em estado grave. Adrielly era a caçula de cinco irmãos, de 23, 18, 16, 14 e 10 anos. Depois do carnaval, ela começaria o 2.º ano do ensino fundamenta­l. “Ela é o meu milagre. Engravidei dela depois de ter tido um câncer no útero. Toda a gravidez foi de risco. Mesmo assim, ela nasceu perfeita, saudável. Era uma menina linda, ativa, brincalhon­a, muito espontânea”, diz Márcia.

A mãe afirma sempre ter vigiado o conteúdo que a filha acessava na internet via celular – um aparelho que ganhou de uma tia. Por isso, diz acreditar que a menina tenha visto o vídeo do “desafio do desodorant­e” no aparelho de outra pessoa.

“Vasculhamo­s todo o celular dela nesses últimos dias e não encontramo­s nada que não fosse apropriado para a idade dela. No histórico só tem vídeos da Baby Alive (uma boneca) e de desenhos que ela assistia na televisão”, diz a motorista. Márcia diz que o filho de 10 anos contou ter visto uma vez a irmã tentando inalar desodorant­e. “Ele disse que deu bronca nela, mas deveria ter me contado antes de essa tragédia acontecer.”

A morte está sendo investigad­a pelo 8.º Distrito Policial de São Bernardo. O Instituto Médico-Legal ainda vai apresentar um laudo sobre o caso.

Riscos. Em busca rápida no YouTube, dezenas de vídeos, a maioria gravada por crianças, tratam do “desafio do aerossol”. É possível até encontrar publicaçõe­s com audiência alta, como uma de abril de 2016, com 63 mil visualizaç­ões. Nela, um adolescent­e incentiva a ação. Além do desafio de inalar desodorant­e, há também outras “brincadeir­as”, quase sempre feitas por crianças, com o produto. Em um deles, o desafio é aplicar o desodorant­e em uma área localizada da pele pelo máximo de tempo, causando queimadura­s. Relatos de casos do tipo também já foram registrado­s em outros países, como a Inglaterra, o que motivou alerta de especialis­tas.

Nos últimos meses, um suposto jogo virtual chamado Baleia-Azul também mobilizou

Márcia Gonçalves

pais e autoridade­s. O desafio, com 50 níveis de dificuldad­e, tem o suicídio como resultado final. Em pelo menos oito Estados do País, houve suicídios e mutilações com suspeitas de ligação com a Baleia-Azul.

Para Rodrigo Nejm, diretor de prevenção e atendiment­o da SaferNet, ONG de direitos humanos na web, é fundamenta­l não culpar a família. “Infelizmen­te, os pais ainda têm dificuldad­es em perceber a internet como uma praça pública com mais de 3 bilhões de pessoas. Uma criança de 7 anos certamente não tem maturidade para desfrutar da liberdade em uma praça pública como essa.”

No Brasil, um em cada dez adolescent­es de 11 a 17 anos acessa conteúdo na internet sobre formas de se ferir – e 1 em cada 20, de se suicidar, segundo o Centro de Estudos Sobre Tecnologia­s da Informação e Comunicaçã­o (Cetic).

“Minha filha era inocente, achou que era só uma brincadeir­a. Isso pode acontecer com outras crianças. Jamais imaginei que isso poderia acontecer com a minha menina” Tristeza

MÃE DA MENINA MORTA POR CAUSA DO

AEROSSOL EM SÃO BERNARDO

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Dor. Márcia encontrou a filha deitada de bruços sobre a cama e sentiu cheiro do produto

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