Criança morre após ‘desafio do desodorante’
Suspeita é de que criança de 7 anos tenha participado de ‘desafio do aerossol’, divulgado nas redes sociais; caso ocorreu em São Bernardo
Uma menina de 7 anos morreu no sábado, em São Bernardo do Campo, depois de inalar desodorante aerossol, desmaiar e ter uma parada cardiorrespiratória. Crianças e jovens aparecem em vídeos na internet fazendo o “desafio do desodorante”. Algumas dicas ajudam pais a monitorar os conteúdos vistos pelos filhos.
Uma menina de 7 anos morreu no sábado depois de inalar desodorante aerossol em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. De acordo com a família, Adrielly Gonçalves participava do ‘desafio do desodorante’, que havia visto nas redes sociais, quando desmaiou e teve uma parada cardíaca.
O desafio, dizem os parentes da garota, consiste em inalar o desodorante e manter a boca fechada pelo máximo de tempo. A mãe da criança, Márcia Gonçalves, de 39 anos, conta que a filha passou a sexta-feira brincando na vizinha e à noite voltou para casa, onde ficou sob o cuidado dos irmãos mais velhos.
“Cheguei em casa e a encontrei deitada de bruços na minha cama. Achei que ela estava dormindo, até porque já eram 2 horas. Tomei um banho e fui deitar do lado dela. Foi quando percebi um forte cheiro de desodorante e vi que ela estava desmaiada”, conta a mãe, que é motorista de ônibus e trabalhava na escala noturna quando a menina morreu.
Segundo a prefeitura de São Bernardo, a menina recebeu atendimento às 4 horas, com parada cardiorrespiratória, em estado grave. Adrielly era a caçula de cinco irmãos, de 23, 18, 16, 14 e 10 anos. Depois do carnaval, ela começaria o 2.º ano do ensino fundamental. “Ela é o meu milagre. Engravidei dela depois de ter tido um câncer no útero. Toda a gravidez foi de risco. Mesmo assim, ela nasceu perfeita, saudável. Era uma menina linda, ativa, brincalhona, muito espontânea”, diz Márcia.
A mãe afirma sempre ter vigiado o conteúdo que a filha acessava na internet via celular – um aparelho que ganhou de uma tia. Por isso, diz acreditar que a menina tenha visto o vídeo do “desafio do desodorante” no aparelho de outra pessoa.
“Vasculhamos todo o celular dela nesses últimos dias e não encontramos nada que não fosse apropriado para a idade dela. No histórico só tem vídeos da Baby Alive (uma boneca) e de desenhos que ela assistia na televisão”, diz a motorista. Márcia diz que o filho de 10 anos contou ter visto uma vez a irmã tentando inalar desodorante. “Ele disse que deu bronca nela, mas deveria ter me contado antes de essa tragédia acontecer.”
A morte está sendo investigada pelo 8.º Distrito Policial de São Bernardo. O Instituto Médico-Legal ainda vai apresentar um laudo sobre o caso.
Riscos. Em busca rápida no YouTube, dezenas de vídeos, a maioria gravada por crianças, tratam do “desafio do aerossol”. É possível até encontrar publicações com audiência alta, como uma de abril de 2016, com 63 mil visualizações. Nela, um adolescente incentiva a ação. Além do desafio de inalar desodorante, há também outras “brincadeiras”, quase sempre feitas por crianças, com o produto. Em um deles, o desafio é aplicar o desodorante em uma área localizada da pele pelo máximo de tempo, causando queimaduras. Relatos de casos do tipo também já foram registrados em outros países, como a Inglaterra, o que motivou alerta de especialistas.
Nos últimos meses, um suposto jogo virtual chamado Baleia-Azul também mobilizou
Márcia Gonçalves
pais e autoridades. O desafio, com 50 níveis de dificuldade, tem o suicídio como resultado final. Em pelo menos oito Estados do País, houve suicídios e mutilações com suspeitas de ligação com a Baleia-Azul.
Para Rodrigo Nejm, diretor de prevenção e atendimento da SaferNet, ONG de direitos humanos na web, é fundamental não culpar a família. “Infelizmente, os pais ainda têm dificuldades em perceber a internet como uma praça pública com mais de 3 bilhões de pessoas. Uma criança de 7 anos certamente não tem maturidade para desfrutar da liberdade em uma praça pública como essa.”
No Brasil, um em cada dez adolescentes de 11 a 17 anos acessa conteúdo na internet sobre formas de se ferir – e 1 em cada 20, de se suicidar, segundo o Centro de Estudos Sobre Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic).
“Minha filha era inocente, achou que era só uma brincadeira. Isso pode acontecer com outras crianças. Jamais imaginei que isso poderia acontecer com a minha menina” Tristeza
MÃE DA MENINA MORTA POR CAUSA DO
AEROSSOL EM SÃO BERNARDO