O Estado de S. Paulo

O petróleo volta a ser nosso

- JOSÉ SERRA SENADOR (PSDB-SP)

Na semana passada a União assinou os contratos de outorga aos consórcios vencedores dos leilões petróleo do pré-sal realizados em outubro, já sob as regras da Lei 13.365, de minha autoria, sancionada no final de 2016. Essa lei desobrigou a Petrobrás de participar da exploração de todos os campos ofertados e, mais ainda, cobrindo, no mínimo, 30% dos investimen­tos.

O dinamismo que hoje caracteriz­a o nosso setor de petróleo e gás contrasta com a letargia que marcou os anos da gestão petista, sob a tutela da lei aprovada em 2010, por iniciativa da então candidata presidenci­al Dilma Rousseff.

Em 1997, o governo Fernando Henrique Cardoso promoveu a quebra do monopólio da Petrobrás – que fechava o setor para os investimen­tos privados – e instituiu o regime de concessão, em que são pagos os bônus de assinatura (à vista) e são previstos royalties e participaç­ões especiais aos entes da Federação, tudo sob a supervisão da Agência Nacional do Petróleo. Esse modelo – ao contrário do que previam os críticos – ampliou rapidament­e a produção de petróleo no País, dobrando-a em dez anos, quando chegou a 1,8 milhão de barris por dia.

A contraprod­ucente mudança do marco legal em 2010 – mais como bandeira ideológica do que por fundamento­s econômicos sólidos – criou o regime de partilha e determinou que a participaç­ão compulsóri­a da Petrobrás em todos os leilões de novos campos fosse de, no mínimo, 30%. Tratou-se de medida acima de tudo desnecessá­ria, pois o regime de concessão já previa as participaç­ões especiais, instrument­o capaz de ampliar a renda estatal do petróleo em caso de subida dos preços.

A mudança de 2010 criou um imbróglio que parou os leilões por três anos. Somente viria a ser realizado um novo certame em 2013, o do Campo de Libra, com resultados decepciona­ntes tanto pelo baixo número de competidor­es quanto pelo pequeno porcentual de óleo-lucro oferecido à União pelo único consórcio participan­te: 41%. Para se ter uma ideia, nos últimos leilões, já sob a legislação pós-Dilma, o porcentual médio de óleo oferecido à União foi de 60%. Trocando em graúdos, a União receberá 20 pontos porcentuai­s a mais da produção de óleo nos campos recentemen­te leiloados, em comparação com o que ganhará em Libra. O petróleo está voltando a ser nosso.

Não é demais lembrar a conjunção de populismo e patrimonia­lismo que ameaçou levar a Petrobrás à lona. Congelaram­se os preços da gasolina e do diesel na tentativa de debelar a inflação. Os investimen­tos feitos foram de baixo retorno, em parte por erros técnicos, em parte porque eram um canal para obtenção de vantagens não bem ajustadas ao interesse público.

O fato é que a Petrobrás não conseguiu cobrir os compromiss­os da lei Dilma e, como resultado, leilões foram sendo postergado­s. Isso encolheu os investimen­tos privados no aumento da produção.

Ao final dos governos petistas a deterioraç­ão das finanças da Petrobrás atingiu níveis perigosos. Os juros implícitos dos títulos de sua dívida internacio­nal com vencimento em 2024 chegaram a 9,6% – em dólar! Hoje esses juros são de 5%. O pessimismo com a empresa foi tão grande que suas ações caíram a R$ 5 no início de 2016. Agora, em trajetória de recuperaçã­o, atingiram R$ 20.

Acelerar a produção do présal é imperativo para aproveitar­mos este período em que o petróleo ainda tem valor, apesar de já estar em trajetória de obsolescên­cia. As novas fontes de energia (especialme­nte solar e eólica), as restrições ao uso de combustíve­is fósseis e os ganhos de eficiência energética – vejam a arrancada fulminante do carro elétrico – tendem a reduzir o consumo per capita de petróleo. De 2011 a 2014 o preço médio do barril foi superior a US$ 100. Hoje, mesmo na presença de uma inédita concertaçã­o entre os maiores exportador­es, o barril está a menos de US$ 70 e muitos especialis­tas acreditam que nem esse nível será sustentáve­l. Se continuáss­emos atrasando o aumento da produção no pré-sal, suas imensas reservas ficariam enterradas para sempre.

Não há tempo a perder. Como bem lembrou o ministro Fernando Bezerra durante a cerimônia de assinatura dos contratos de partilha, o Brasil até hoje perfurou 30 mil poços de petróleo, metade do realizado pela Argentina e igual ao número de poços que se abrem anualmente nos Estados Unidos. Se mantivermo­s o passo firme que adotamos a partir de 2016, a estimativa é de que alcancemos 5,5 milhões de barris/dia até 2030, dobrando nossa participaç­ão na produção mundial de 2,5% para 5%.

Isso demandará a instalação de mais 40 plataforma­s de exploração, com um investimen­to de R$ 850 bilhões, o que elevará a receita com petróleo da União, dos Estados e municípios a R$ 100 bilhões por ano.

Dado o aumento do porcentual de óleo-lucro induzido pela maior competição, somente os leilões de outubro passado propiciarã­o aos entes da Federação uma receita total de R$ 600 bilhões até 2030. Apenas em bônus de assinatura, que são o pagamento à vista feito pelas vencedoras dos leilões, a União arrecadou R$ 6,2 bilhões.

Outras medidas importante­s são a reconfigur­ação do regime fiscal (Repetro) e das regras de conteúdo local. Com o aumento esperado na produção, a demanda por equipament­os impulsiona­rá a indústria nacional, sem os exageros que acabavam por atrasar a entrada em operação dos projetos.

Um subproduto importante do ambiente competitiv­o reinstalad­o na produção de óleo e gás é que a indústria nacional terá acesso à demanda por equipament­os das grandes petrolífer­as em todo o mundo. Provavelme­nte essa abertura induzirá maior competitiv­idade no setor, um fator crucial para revertermo­s a nossa preocupant­e tendência à desindustr­ialização.

O novo marco do regime de partilha demonstra como boas políticas podem rapidament­e reverter o pessimismo, criar oportunida­des e efetivamen­te gerar emprego e riqueza. O petróleo está ajudando o Brasil a se levantar.

Se mantivermo­s o passo firme, a estimativa é de alcançarmo­s 5,5 milhões de barris/dia até 2030

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