O Estado de S. Paulo

Sepúlveda Pertence já foi advogado de Lula no STM.

Ex-ministro defendeu Lula em um caso de 1982, quando ex-presidente era líder sindical

- Luiz Maklouf Carvalho

Oex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama o advogado José Paulo Sepúlveda Pertence de “Zé Paulo”. A intimidade nasceu em 1982, quando Pertence atuou, a convite do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, no processo em que o então líder sindical – preso em abril de 1980, durante 31 dias – fora autuado na Lei de Segurança Nacional.

Pertence foi um dos advogados que fizeram a sustentaçã­o oral em defesa de Lula e de outros dez sindicalis­tas no Superior Tribunal Militar, em 16 de abril de 1982. Por 9 a 3, o STM anulou todo o processo que os condenara nas instâncias inferiores – e mandou o caso de volta para a Justiça Federal, onde acabaria prescrito.

Atuaram na defesa, além de Luiz Eduardo Greenhalgh e Sepúlveda Pertence, os advogados Idibal Pivetta, Iberê Bandeira de Mello e Heleno Fragoso. À época, para registrar a coincidênc­ia, Lula era pré-candidato ao governo de São Paulo – como de fato foi (quarto lugar, com 1,4 milhão de votos).

Uma semana depois da decisão do Superior Tribunal Militar, Lula convidou Pertence para a comemoraçã­o que os metalúrgic­os fariam em um restaurant­e de São Bernardo do Campo. Presenteou-o, então, com uma foto da ocupação militar do sindicato durante a greve. Até hoje Pertence a guarda entre suas preferidas. Depois do jantar comemorati­vo, Lula levou Pertence para sua casa.

Jogaram conversa fora madrugada adentro – animada por uma cachacinha com cambuci, selando uma amizade que dura até hoje. Ajudou a consolidá-la o advogado Sigmaringa Seixas, também amigo de ambos.

‘Impediment­o’. Pertence, tal como o ex-presidente Lula, gosta de destilados, especialme­nte de uísque. Já foi contado que durante uma sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF), quando ministro da Corte (por 18 anos), Pertence ouviu o relator de um caso citar o sobrenome Walker. Aparteou jocosament­e o colega: “Ministro, seria o Johnnie Walker? Porque, se for, eu e o ministro Ilmar Galvão vamos ter que nos declarar impedidos”.

Questionad­o certa vez a respeito da boutade, Pertence, mineiro de Sabará, não foi, digamos, conclusivo. O causo já foi contado, em público, em fevereiro de 2007, até pelo hoje ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, para pais de formandos no curso de Direito da Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Nessa versão, a resposta de Pertence foi outra: “Porque se fosse Johnnie, Johnnie Walker, teria que me dar por impedido por amizade íntima”. Barroso registrou que “o ministro (Pertence) nega o episódio, embora sem veemência. Mas, se não aconteceu, poderia ter acontecido!”.

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REGINALDO MANENTE/ESTADÃO-19/11/1981 Sindicalis­ta. Segundo julgamento de Lula no processo

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