O Estado de S. Paulo

ARTE DÁ UTILIDADE AO BOLÍVAR

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Começou como uma brincadeir­a. O ambulante Wilmer Rojas, de 25 anos, recolhia notas jogadas de 2, 5, 10 e 20 bolívares – indesejáve­is em um país no qual a hiperinfla­ção deve chegar a 13.000% este ano – para fazer barquinhos de papel. Após mais desvaloriz­ações da moeda, ele passou a confeccion­ar de tudo com as notas que ninguém quer: de bolsas a caixas de cigarro, para vendêlas em uma das estações de metrô de Caracas. “As pessoas jogam essas notas fora porque não servem para comprar nada, nem mesmo uma bala”, explica.

Para confeccion­ar uma carteira, são necessária­s 400 notas. Mesmo as cédulas de maior valor também se desvaloriz­am rapidament­e. Hoje, somados, os bilhetes em circulação – 100, 500, 1 mil, 2 mil, 5 mil, 10 mil, 20 mil e 100 mil – equivalem a 50 centavos de dólar no mercado negro.

“Com esse bolo de 50 notas de mil consigo fazer uma caixa de cigarros”, conta. Mas Wilmer diz que está cada vez mais difícil vender seus produtos. “Sem dinheiro para comida, por que alguém gastaria com isso?”

Mais sortudo, o protesto lançado pelo desenhista José León, de 26 anos, está lhe trazendo lucro. Ele pintou notas com imagens de heróis de histórias em quadrinhos e paisagens sobre o rosto do libertador Simón Bolívar. Seus clientes pagam até US$ 20 por uma peça. “Com um pouco de tinta, revalorizo minha moeda em 5.000%”, brinca.

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FOTOS: FEDERICO PARRA/AFP–30/1/2018 Artesanato. Nas ruas de Caracas, Wilmer Rojas, de 25 anos, faz bolsas usando notas de bolívar: dinheiro vale mais como material do que como meio de troca
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