O Estado de S. Paulo

DESAFETO DO FENÔMENO RENASCE NO EGITO Técnico leva país ao Mundial após 28 anos

- Marcius Azevedo

Héctor Cúper foi importante para o futebol do Egito na mesma proporção do que represento­u para o treinador assumir o comando do selecionad­o local. Argentino com trabalhos significat­ivos no currículo, com passagens por Mallorca, Valencia e Inter de Milão, o treinador estava esquecido no mundo da bola até conseguir classifica­r os egípcios para uma Copa do Mundo depois de 28 anos. Os Faraós não disputavam o torneio desde 1990, na Itália.

O auge do técnico foi no Valencia, quando alcançou duas finais da Liga dos Campeões da Europa. Apesar das derrotas para Real Madrid e Bayern de Munique em 2000 e 2001, respectiva­mente, Cúper, que foi bicampeão da Supercopa da Espanha em 1998 – pelo Mallorca – e em 1999 – pelo próprio Valencia –, recebeu sua grande chance na carreira ao assumir a Inter de Milão.

A trajetória no futebol italiano, que durou menos de três temporadas, não rendeu nenhum título e ficou marcada pelo desentendi­mento com Ronaldo Fenômeno. Até hoje, o ex-atacante fica irritado ao ser questionad­o sobre o treinador. Para ele, Cúper prejudicou sua carreira. O argentino costuma responder com ironia. “A única coisa que gostaria de ressaltar é que, apesar das minhas supostas tentativas de arruinar sua carreira, ele fez uma ótima Copa do Mundo (em 2002). Ele foi campeão e artilheiro.”

A verdade é que o treinador não apresentou mais nenhum trabalho consistent­e depois de sair da Inter de Milão, quando perdeu o título italiano na última rodada na temporada 2002-203. Cúper rodou por Mallorca, Bétis, Parma, seleção da Geórgia, Aris Thessaloni­ki, do Chipre, Racing Santander, Orduspor, do Peru, e Al Wasl, dos Emirados Arábes Unidos, até assumir o comando do Egito, em março de 2015.

O argentino trouxe resultado imediato. Classifico­u o país para a Copa Africana de Nações em 2017, torneio que o Egito havia ficado de fora em 2012, 2013 e 2015. Foi vice-campeão, perdendo para Camarões na final, mas o desempenho do time, principalm­ente na defesa, deu esperança de um futuro melhor.

Com uma equipe organizada, algo que sempre fez ao longo da carreira, Cúper aproveitou o talento individual de alguns jogadores, entre eles o atacante Mohamed Salah, do Liverpool, para ir bem nas eliminatór­ias. O Egito sofreu apenas duas derrotas ao longo da caminhada para chegar à Copa da Rússia. A primeira para o Chade, o que serviu para uma pequena correção de rota, e depois para Uganda, já na fase final. Foram 12 gols marcados e cinco sofridos.

“Amo o futebol inglês. Costumava assistir atentament­e ao time do Manchester United do Alex Ferguson. Copiei muitas coisas daquela equipe, uma formação com dois atacantes, movimentaç­ões”, diz Cúper.

O argentino destaca o relacionam­ento do povo egípcio com sua seleção. “Eles precisavam de uma forma de se expressar e nós nos tornamos isso. Eles precisavam de uma equipe para apoiar.”

As pretensões do treinador e de sua seleção não são grandes, mas, para uma união que já foi benéfica para os dois lados, o que acontecer com o Egito na

Copa do Mundo será apenas um detalhe.

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AMR ABDALLAH DALSH/REUTERS Próximo treinador: Jorge Sampaoli, que terá como desafio ser campeão com Messi

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