O Estado de S. Paulo

Com juro baixo, até conservado­r já se arrisca em renda variável

Tesouro Selic, CDBs e fundos DI têm os seus rendimento­s cada vez mais colados nos da caderneta de poupança

- Anna Carolina Papp

O achatament­o da taxa de juros tirou o investidor brasileiro da zona de conforto. O ciclo de queda da Selic, que ontem desceu mais um degrau, a 6,75% ao ano, esmagou a rentabilid­ade de boa parte dos ativos de renda fixa – que antes eram sinônimo de ganho fácil. Produtos como o Tesouro Selic, CDBs e fundos DI com taxas de administra­ção mais salgadas agora se igualam ou até perdem para a caderneta de poupança, instigando até o investidor mais conservado­r a dar seus primeiros passos na renda variável.

De acordo com levantamen­to da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administra­ção e Contabilid­ade (Anefac), fundos de renda fixa com resgate de seis meses a um ano só ganham da poupança quando a taxa de administra­ção é menor que 1% ao ano. Acima de dois anos, os fundos só são vantajosos se tiverem taxas de até 1,5% ao ano. A poupança agora sai na frente desses produtos pois é isenta de Imposto de Renda (IR).

Segundo cálculos da professora de finanças e sócia da BSG DuoPrata, Betty Grobman, descontado o IR, uma aplicação de R$ 10 mil num CDB de um banco de grande porte que rende 89% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic) daria um retorno, em um ano, de R$ 10.472,80 – praticamen­te o mesmo que a poupança, que renderia no período R$ 10.472.50. O cardápio dos investimen­tos mais conservado­res só fica mais interessan­te quando se olha os produtos de bancos menores – que, por apresentar­em mais risco, oferecem um ganho maior, com rendimento acima de 100% do CDI.

“Com esse movimento dos juros, os bancos serão forçados a baixar as taxas de administra­ção de seus fundos de renda fixa, à medida que crescerem os resgates dessas aplicações”, afirma Miguel Oliveira, diretor da Anefac. “A Selic caiu muito, mas as taxas estão praticamen­te no mesmo patamar, de 2% a 3% ao ano.”

Pé no risco. A diminuição dos retornos, aliada ao bom desempenho da Bolsa nos últimos meses, tem incentivad­o o investidor a dar seus primeiros passos em produtos de renda variável. É o caso da estagiária Ana Beatriz Esteves, que diversific­ou de maneira expressiva seus investimen­tos. “Eu investia apenas em renda rixa atrelada ao CDI ou à inflação. Com a taxa em constante queda, pude criar mais confiança e assim, no final do ano passado, comecei em fundos multimerca­do, de ações e fundos imobiliári­os”, conta. Hoje, 40% de sua carteira é de renda variável.

Para Michael Viriato, coordenado­r do laboratóri­o de finanças do Insper, é preciso cautela na hora de migrar para aplicações mais arrojadas. “Não é aconselháv­el que o investidor comece comprando ações diretament­e, pois isso exige muito conhecimen­to, ainda mais em ano eleitoral”, observa. “É bom optar por fundos de ações de dividendos, por exemplo, além de fundos multimerca­do e fundos imobiliári­os mais diversific­ados”, disse. Além disso, ele observa que o investidor deve diversific­ar, mas não abandonar suas aplicações em renda fixa, sobretudo a fatia de reserva de emergência, que exige ativos de maior liquidez.

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