O Estado de S. Paulo

Eletrobrás deve ficar com dívida de empresas

Governo quer que estatal assuma débito de R$ 19,7 bilhões de seis distribuid­oras

- Anne Warth / BRASÍLIA

O governo vai recomendar à Eletrobrás que assuma toda a dívida de suas seis distribuid­oras, que chega a R$ 19,7 bilhões. As dívidas têm sido um dos maiores entraves para a venda dessas subsidiári­as – o primeiro passo para a posterior privatizaç­ão da própria estatal de energia. Analistas avaliam que assumir a dívida agradaria a investidor­es interessad­os em assumir a operação das empresas, que ficariam com ativos completame­nte “limpos”.

A ideia inicial era que a Eletrobrás assumisse os débitos, mas a estatal avaliou que seria melhor dividir a conta com as empresas a serem privatizad­as. Pela orientação de voto feita pela diretoria da empresa no início de janeiro, a empresa ficaria com R$ 11,2 bilhões dessa dívida e deixaria com as subsidiári­as os outros R$ 8,47 bilhões de uma disputa envolvendo fundos setoriais.

A União, no entanto, foi contra essa proposta. Para os ministério­s da Fazenda, Planejamen­to e Minas e Energia, a empresa deve ficar com toda a dívida. Hoje, os acionistas da Eletrobrás vão tomar uma decisão a respeito do assunto, durante assembleia geral, em Brasília (DF).

A União tem maioria de votos, pois detém 60% de participaç­ão na empresa, mas, segundo apurou o Estadão/Broadcast, essa proposta também tem apoio de vários acionistas minoritári­os da Eletrobrás. Eles entendem ser melhor ficar com as dívidas do que correr o risco de não vender as distribuid­oras por causa desses passivos.

O presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Jr., deixou claro seu posicionam­ento no início do mês. Na avaliação dele, a Medida Provisória 814/2017 trazia solução para a totalidade das dívidas das distribuid­oras com os fundos setoriais, permitindo que as dívidas virassem créditos e pudessem ser vendidas junto com as empresas.

Buraco. A MP, no entanto, soluciona apenas parte do problema. De acordo com fontes do governo, um valor entre R$ 3 bilhões e R$ 3,5 bilhões continua sem qualquer solução ou cobertura. De acordo com uma dessas fontes, “não há justificat­iva moral, técnica ou legal” para que essa dívida seja assumida pela União ou pelo consumidor, nem há recursos no Orçamento destinados a assumir essa parcela.

Para o governo, se a Eletrobrás não assumir esse rombo, há risco de que as distribuid­oras não sejam privatizad­as. Nesse cenário, a companhia teria de arcar integralme­nte com o custo de liquidação das empresas, e a União, como acionista, só seria responsáve­l indireta, por meio da parcela referente à sua participaç­ão acionária. Se o governo assumisse o valor integral, isso seria considerad­o doação para acionistas privados.

Essa parcela, entre R$ 3 bilhões e R$ 3,5 bilhões, diz respeito à Amazonas Energia, que recebeu, ao longo dos últimos anos, recursos pagos por consumidor­es de todo o País para abastecer regiões isoladas do Estado. Mas parte desse dinheiro foi usado para cobrir ineficiênc­ias da própria empresa e roubos de energia, conhecidos como “gatos”.

Uma fiscalizaç­ão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mandou a empresa devolver os valores, que seriam usados para abater reajustes tarifários. A empresa, porém, recorreu à Justiça contra a decisão. Por meio de nota, a Eletrobrás informou que a questão ainda está sendo analisada pela Aneel e que só vai se pronunciar sobre o assunto após a decisão final da agência.

Em nota, a Eletrobrás informou que a desestatiz­ação das distribuid­oras é a primeira opção para a holding, que pretende se concentrar nas áreas de geração, transmissã­o e comerciali­zação de energia.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO - 26/6/2017 Saída. Wilson Ferreira Jr., presidente da Eletrobrás, vê solução para dívidas em MP

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