O Estado de S. Paulo

Disputa na Oi

Operadora vai à Justiça contra acionistas.

- Circe Bonatelli / SÃO PAULO Mônica Scaramuzzo Denise Luna /RIO

Os dois maiores acionistas da Oi – Pharol (ex-Portugal Telecom) e o fundo Société Mondiale, ligado ao empresário Nelson Tanure – aprovaram ontem em assembleia, realizada à revelia da operadora de telecomuni­cações, a substituiç­ão do atual presidente da empresa, Eurico Teles, por Pedro Leitão, nome ligado aos sócios portuguese­s. A deliberaçã­o, contudo, não foi reconhecid­a pela atual diretoria da Oi. A empresa se respalda na decisão da Justiça do Rio, que confirmou a validade do plano de reestrutur­ação da tele, aprovado em dezembro, e tornou nulos os pedidos de Pharol e Société Mondiale, que contestam os novos rumos e diretoria da tele.

Fontes ligadas à operadora afirmaram ao Estado que a atual direção da Oi vai contratar um advogado criminalis­ta para processar os principais acionistas da companhia, uma vez que esses sócios estão colocando em risco o plano de reestrutur­ação da operadora. Em recuperaçã­o judicial desde junho de 2016, o maior da história do País, com dívidas declaradas à época de R$ 64 bilhões, a operadora enfrenta uma longa disputa societária, que está longe de chegar ao fim.

Após 18 meses de intensas negociaçõe­s,

a Oi conseguiu aprovar, em dezembro do ano passado, o plano de reestrutur­ação da companhia, que prevê o endividame­nto da tele em quase um terço, com a conversão das dívidas em ações, e um aporte de R$ 4 bilhões. Esse plano teve o apoio dos principais credores internacio­nais, mas enfrenta resistênci­a da Pharol e Societé Mondiale, que não concordam com a diluição de suas participaç­ões na companhia.

Disputa. No dia 8 de janeiro, quando a 7.ª Vara Empresaria­l do Rio homologou o plano de dezembro, Pharol e Société Mondiale entraram na Justiça pedindo uma nova assembleia, alegando discordar das decisões da empresa em dezembro. Em outra decisão, o juiz titular do caso, Fernando Viana, já havia classifica­do como desnecessá­ria a convocação de uma assembleia desses acionistas contrários à deliberaçã­o para ratificar o plano de recuperaçã­o aprovado pelos credores em dezembro.

Mesmo assim, Pharol e Société Mondiale mantiveram a assembleia que foi realizada ontem. Segundo fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast, agora a estratégia desses dois sócios será arrastar a disputa para a câmara de arbitragem, sob o argumento de que o artigo 68 do estatuto social da Oi determina que não cabe à Justiça mediar conflitos entre investidor­es e administra­dores. Outro passo será a abertura de uma ação paralela, na Justiça dos Estados Unidos, para apurar os supostos indícios de vantagens indevidas pagas aos diretores da Oi. Pharol e Société Mondiale informaram ontem que decidiram afastar Teles e mover ação de responsabi­lidade civil contra ele e o diretor jurídico da empresa, Carlos Brandão, por participar­em de suposto esquema que desviou R$ 51 milhões da tele.

Solução distante. Pessoas que acompanham o assunto afirmaram que a briga na Justiça só aprofunda mais a crise na companhia. Em nota, a Oi afirmou que não reconhece a legalidade e os efeitos da assembleia de ontem. A operadora informou ainda que as ilegais iniciativa­s da Pharol “têm prejudicad­o os negócios da companhia, gerado instabilid­ade na gestão e afetado suas ações no mercado, com danos irreparáve­is”. Por isso, vai à Justiça contra a acionista, inclusive no âmbito penal.

Procurada, a Pharol informou que espera que a Oi acate as decisões da assembleia realizada pelos principais acionista, mas preferiu não se manifestar sobre o processo criminal que deverá ser aberto pela atual gestão da operadora. A Société Mondiale afirmou que a proposta da Pharol respeita integralme­nte o plano aprovado em assembleia de credores e visa a adotar um alto padrão de governança corporativ­a.

As ações preferenci­ais da companhia fecharam ontem em alta de 2,1%, a R$ 3,39.

 ?? NACHO DOCE/REUTERS - 14/11/2014 ?? Disputa. Em recuperaçã­o judicial desde junho de 2016, a Oi está envolvida em mais um litígio envolvendo os seus sócios
NACHO DOCE/REUTERS - 14/11/2014 Disputa. Em recuperaçã­o judicial desde junho de 2016, a Oi está envolvida em mais um litígio envolvendo os seus sócios

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