O Estado de S. Paulo

Peça de Mirisola une corpo e mente livres

Escrita com Nilo Oliveira, comédia traz aventuras sexuais entre amigos

- Leandro Nunes

Depois de muitos diretores torcerem o nariz ao lerem a dramaturgi­a de Paisagem em Campos do Jordão, o diretor uruguaio Mauro Baptista Vedia e “sua intuição” confirmara­m o interesse de montar a peça de Marcelo Mirisola, escrita a quatro mãos com Nilo Oliveira. Em cartaz no Cemitério de Automóveis, não haveria melhor lugar para essa comédia que retrata dois amigos de longa data recordando suas memórias sexuais e as do presente, numa narrativa capaz de pôr a imaginação da plateia para trabalhar. “É um mergulho na sexualidad­e brasileira, no que foi a Boca do Lixo e a pornochanc­hada no Brasil, além de ter uma certa escatologi­a na poesia”, aponta o diretor.

Para Mirisola, a ideia é buscar estranhame­nto na plateia, no papo entre os parceiros que recordam da última visita a uma casa de swing, que terminou com a filha de um deles flagrando o pai transando com uma travesti. “Basta imaginar a conversa entre um corretor de imóveis e um advogado formado numa dessas Uniesquina­s da vida, e voilà”, diz o autor. “O que esses brutamonte­s falam chega ao limite e surpreende porque a invenção toda cabe na mesa de um boteco”, explica o diretor. “Apesar do tema, não tentamos buscar o humor em primeiro lugar, caso contrário ficaria uma comédia fraca, caricatura­l”, completa.

Na segunda parte da montagem, a esposa (Patrícia Vilela) de um deles aparece e o medo de que o segredo seja descoberto atiça o casal para uma conversa franca. “Há um lado muito positivo ao discutir tabus, o formato possível dos relacionam­entos e o ciúme”, diz Vedia.

Além da Boca do Lixo, Mirisola conta que a Praça Roosevelt, lugar onde morou e assistiu às peças de Mario Bortolotto, diretor do espaço do Cemitério de Automóveis, é um lugar que povoa suas obras, tal qual seu último romance, Como Se Me Fumasse (2017), uma mistura de ficção com memórias, que percorre as cidades de Espírito Santo do Pinhal e Florianópo­lis. “Assistia a três ou quatro peças diariament­e, e devo ter visto todas as do Bortolotto pelo menos umas 50 vezes cada uma.” Muito embora não tenha escrito mais dramaturgi­as, o autor revela que guarda Mesa 5, um texto inédito.

PAISAGEM EM CAMPOS DO JORDÃO

Cemitério dos Automóveis. R. Frei Caneca, 384; 2371-5743. 4ª, 5ª, 21h. R$ 40 / R$ 20. Até 28/2.

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MAURO BAPTISTA VEDIA Dupla. Fabio Esposito e Henrique Stroeter

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