Escalação da Borgonha
Imagine o susto de Jussiê, jogador de futebol brasileiro baseado na França, ao chegar em Bordeaux e, em sua primeira concentração do clube Girondins, ser servido de uma taça de vinho, às vésperas de um jogo importante, em 2005. No dia seguinte, o vinho estava lá de novo apenas quatro horas antes da partida. Era demais, não resistiu e perguntou aos organizadores como permitiam que o álcool entrasse na concentração. A resposta foi rápida e cortante: “Álcool? Álcool não, alimento”. Pareceu coisa de louco, mas logo Jussiê entendeu – a cultura do vinho estava em todos os lugares, até o presidente do clube era produtor. E, mais que isso, se apaixonou.
Rapidamente, transformou o vinho em seu plano de aposentadoria, que para um jogador de futebol pode chegar cedo. Com isso em mente, aproveitou as benesses que seu métier oferece e passou a aceitar todos os convites para visitar châteaux em Bordeaux e conhecer outras regiões e produtores de perfis distintos. Começava assim uma relação de amor que culminaria na Juss Millesimes (juss-millesimes.com.br), importadora que estreia em março, quando chegam as primeiras garrafas (preços ainda não divulgados).
O portfólio, Jussiê conta, veio pronto, montado pela distribuidora Diva, uma das maiores do mundo. São 42 rótulos de 16 produtores. A maior parte delas, paradoxalmente, vem da Borgonha. A escolha por eles em detrimento de Bordeaux se deu pela facilidade de negócios (“Lá falamos direto com o produtor e os preços são melhores”) e também por achar que o Brasil tinha espaço para receber rótulos como os do célebre Domaine Armand Rousseau, proprietários de vinhedos grand cru nas denominações de Gevrey-Chambertin e Morey-Saint-Denis. Mas há ainda vinhos de Vale do Loire, Provence, Champagne, Côtes du Marmandais (sudoeste) e um Rioja feito por um francês.
Embora convertido em importador, Jussiê não deixará Bordeaux. No Brasil, quem toca a importadora é o diretor Raphael Malago, que é experiente no que diz respeito à burocracia de importação.