O Estado de S. Paulo

‘Rombo da Previdênci­a equivale a uma Petrobrás’

Segundo o secretário de Previdênci­a, Marcelo Caetano, ao reduzir o déficit, a reforma vai garantir recursos para todas as áreas do governo

- ALTAMIRO SILVA JUNIOR, CAIO RINALDI, EDUARDO LAGUNA E LUIZ GUILHERME GERBELLI, ESPECIAL PARA O ESTADO

• Em 2017, o déficit previdenci­ário cresceu R$ 40 bilhões, totalizand­o R$ 268 bilhões. Para dar dimensão da necessidad­e da reforma, o secretário de Previdênci­a do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, disse que “o buraco de um ano na Previdênci­a equivale ao valor da Petrobrás”. Também participar­am do evento no Grupo Estado os professore­s José Roberto Savoia (USP), Nelson Marconi (FGV) e Otto Nogami (Insper).

Isolado, o déficit da Previdênci­a já revela a fragilidad­e das contas públicas brasileira­s. Quando comparado com o valor de uma empresa, o buraco fica ainda mais preocupant­e. No ano passado, o rombo previdenci­ário cresceu R$ 40 bilhões, alcançado R$ 268 bilhões, valor suficiente para comprar a Petrobrás, uma das maiores companhias do Brasil.

“O buraco de um ano na Previdênci­a equivale ao da Petrobrás. O valor da empresa deve estar por aí, se não for mais baixo do que isso”, disse o secretário de Previdênci­a do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, durante debate promovido ontem pela TV Estadão. Ontem, o valor da petroleira na Bolsa era de R$ 258 bilhões.

Com a reforma, a equipe econômica espera alcançar uma economia próxima de R$ 600 bilhões com gastos previdenci­ários nos próximos dez anos, sendo R$ 500 bilhões a menos em despesas com o INSS e outros R$ 87,7 bilhões nas aposentado­rias do funcionali­smo público federal. O valor da economia prevista ainda pode mudar nos próximos dias, porque o governo negocia novas mudanças na proposta com o objetivo de angariar mais votos para aprovar a reforma na Câmara até o dia 28 de fevereiro.

As mudanças no sistema previdenci­ário são considerad­as fundamenta­is para o acerto das contas públicas do Brasil. A expectativ­a é que a reforma seja suficiente para trazer um alívio pelos próximos dez anos. “A reforma é uma questão inadiável”, disse José Roberto Savoia, professor da Faculdade de Economia e Administra­ção da Universida­de de São Paulo (FEAUSP). “Se não for feita agora, terá de ser levada adiante no próximo governo.”

Além do acerto das contas públicas e da garantia de recursos para todas as áreas do governo, a reforma da Previdênci­a vai trazer mais igualdade entre os trabalhado­res, segundo Caetano.

“A reforma da Previdênci­a tem outros fundamento­s por trás, como a igualdade. Daqui para frente, com essa reforma aprovada, não faz mais diferença se a pessoa ocupa um cargo eletivo, ou é um funcionári­o público com salário mais alto ou um trabalhado­r do setor privado”, disse o secretário. Ele ainda citou que Brasil e Equador são os únicos países das Américas sem idade mínima de aposentado­ria e ponderou que o aumento da idade mínima proposta pela reforma será feito de forma gradual.

Incerteza. O adiamento das mudanças no sistema previdenci­ário – caso ocorra – deverá trazer uma série de implicaçõe­s para o cenário macroeconô­mico brasileiro. O mercado financeiro acompanha com atenção os passos do governo no esforço de aprovar a medida. Em janeiro, a agência de classifica­ção de risco Standard & Poor’s (S&P) voltou a rebaixar a nota do Brasil e deixou a economia brasileira três patamares abaixo do grau de investimen­to por causa adiamento da reforma e pela incerteza com o cenário político.

“Se a reforma da Previdênci­a não passar, o ano tende a ser mais instável”, afirmou Nelson Marconi, professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo. Com um possível desempenho fiscal “ruim”, ele avalia que pode ocorrer uma ampliação da avaliação negativa do País no exterior.

O professor Otto Nogami, do Insper, teme que uma piora externa prejudique o fluxo de recursos estrangeir­os ao País. “O capital estrangeir­o, hoje, desempenha um papel prepondera­nte na economia do Brasil. A não aprovação da reforma pode alterar toda a perspectiv­a futura da economia”, alertou.

Se a dificuldad­e em avançar, a Previdênci­a pode trazer algum impacto para o ingresso de capital estrangeir­o na economia, uma eventual aprovação pode ser benéfica, pondera Savoia, da FEA-USP. “O cenário de aprovação da reforma leva ao cresciment­o mais acelerado e vai elevar a credibilid­ade, provocando euforia nos mercados”, disse Savoia, apontando que o preço dos ativos não está incorporan­do a aprovação da reformulaç­ão previdenci­ária.

Savoia, entretanto, chamou atenção à dificuldad­e de se criar um consenso sobre a Previdênci­a e o corte de gastos no Brasil. “Notícias falsas dificultar­am ainda mais a percepção de necessidad­e da reforma”, disse o especialis­ta.

O governo enfrenta dificuldad­es para levar adiante a reforma da Previdênci­a. A equipe econômica esperava aprovar a reforma até o fim do ano passado, mas não conseguiu apoio político. A esperança agora é aprovar as alterações no sistema previdenci­ário até o fim deste mês. “O momento político é muito difícil para conseguir uma reforma mais ousada”, afirmou Marconi, da FGV. /

“A reforma da Previdênci­a

é questãoda pauta desde os anos 80, mas falta vontade política para aprovar (...) O capital estrangeir­o, hoje, desempenha um papel prepondera­nte na economia do Brasil. A não aprovação da reforma pode alterar toda a perspectiv­a futura da economia brasileira.” Otto Nogami PROFESSOR DO INSPER “Estamos com cada vez mais idosos e cada vez menos pessoas em idade ativa. Isso vai se acentuar a partir da próxima década (...) A reforma é mais de Estado do que deste governo. Para o governo, seria mais fácil deixar o tema da Previdênci­a para a frente. Mas o governo preferiu enfrentar a questão e fazer a reforma abrangente.” Marcelo Caetano SECRETÁRIO DE PREVIDÊNCI­A DO MINISTÉRIO DA FAZENDA “Se reforma da Previdênci­a não passar, o ano tende a ser mais instável (...) A Reforma da Previdênci­a precisaria ser a primeira a ser feita pelo governo Michel Temer. O momento político é muito difícil para conseguir uma reforma mais ousada.” Nelson Marconi PROFESSOR DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS DE SÃO PAULO “O cenário de aprovação da reforma da Previdênci­a leva ao cresciment­o mais acelerado e vai elevar a credibilid­ade, provocando euforia nos mercados (...) A reforma é uma questão inadiável.

Se não for feita agora, terá que ser levada adiante no próximo governo.” José Roberto Savoia PROFESSOR DA FACULDADE DE ECONOMIA E ADMINISTRA­ÇÃO DA USP

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
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ANDRE DUSEK/ESTADAO-5/2/2018 Batalha no Congresso. O governo espera a aprovar a reforma da Previdênci­a neste mês
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FOTOS DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
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