O Estado de S. Paulo

PF e Cade vão investigar cartel em postos de gasolina

Para o governo, benefícios da nova política de preços adotada pela Petrobrás não chegam ao consumidor

- Lorenna Rodrigues Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

A Polícia Federal e o Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) vão criar força-tarefa para investigar postos de combustíve­is suspeitos de manipular preços. De 17 casos julgados no Cade desde 2012, 12 resultaram em condenação por formação de cartel. Há oito processos em andamento. Para o governo, por causa dos cartéis, os benefícios da nova política de preços para gasolina e diesel adotada pela Petrobrás não chegam ao consumidor: altas de preços são repassadas às bombas. Reduções, não. “O consumidor tem o direito de escolher preço mais baixo, mas isso só acontece quando há concorrênc­ia”, disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Moreira Franco. Para tentar dar maior transparên­cia ao mercado, a Petrobrás divulgará diariament­e os preços médios da gasolina e do diesel que saem de suas unidades, e não mais somente os porcentuai­s de reajuste.

Com fortes indícios de manipulaçã­o de preços nos combustíve­is, o governo pediu à Polícia Federal e ao Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica que investigue­m as empresas do setor. A decisão de criar uma força-tarefa vem depois de investigaç­ões feitas pelo próprio Cade mostrarem que esse é realmente um problema grave: desde 2012, de 17 casos já julgados, 12 resultaram em condenação por formação de cartel em postos de gasolina. E há ainda oito processos em andamento.

Para o governo, por conta desses cartéis, os benefícios da nova política de preços para gasolina e diesel adotada pela Petrobrás acabam não chegando ao consumidor final: a reclamação é que as altas de preços são quase automatica­mente repassadas às bombas, mas as reduções não chegam aos consumidor­es, conforme informou o blog da colunista Eliane Cantanhêde. “O consumidor tem o direito de escolher o preço mais baixo, mas isso só acontece quando há concorrênc­ia”, disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Moreira Franco.

Na quarta-feira, a Petrobrás anunciou que passará a divulgar diariament­e os preços médios da gasolina e do diesel que saem de suas unidades, e não mais somente os porcentuai­s de reajuste, como vinha sendo feito, para tentar dar mais transparên­cia ao mercado.

Ontem pela manhã, o presidente do Cade, Alexandre Barreto, se reuniu com Moreira Franco e com o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, para discutir o tema. À tarde, Moreira Franco enviou ao Cade documento solicitand­o oficialmen­te providênci­as.

Barreto já havia dito que o fato de a queda de preços na refinaria não ser repassada às bombas pode ser considerad­o um “indício de cartel”, mas que a investigaç­ão tem de ser acompanhad­a de outros elementos.

Investigaç­ões. As maiores multas aplicadas pelo Cade no setor foram para cartéis no Espírito Santo, de R$ 67, 2 milhões, Caxias do Sul (RS), de R$ 65 milhões, e Piauí, de R$ 41,3 milhões. O Cade condenou ainda outros esquemas em São Paulo, Bahia, Paraná, Amazonas, Minas Gerais e Maranhão.

Para o advogado e ex-conselheir­o do Cade Olavo Chinaglia, essas investigaç­ões têm efeitos pontuais no local de atuação do esquema, mas, para que haja um impacto nacional, é necessário também olhar para a distribuiç­ão dos produtos e discutir o monopólio da Petrobrás no refino de petróleo.

“Se o objetivo é baratear para o consumidor, limitar a discussão sobre o fornecimen­to de combustíve­is à intervençã­o do Cade é desviar o foco do problema principal, que é o marco regulatóri­o brasileiro e a maneira como a Petrobrás se relaciona com as distribuid­oras”, afirma.

Em nota, a Federação Nacional do Comércio de Combustíve­is (Fecombustí­veis) disse que o mercado é “livre e competitiv­o” e que cabe a cada distribuid­ora e posto decidir se vai ou não repassar os reajustes aos consumidor­es “de acordo com suas estruturas de custo”.

A federação disse ainda que os postos têm absorvido parte da elevação dos custos cobrados pelas distribuid­oras e ressaltou que os reajustes feitos pela Petrobrás nas refinarias são porcentuai­s médios, aplicados de forma diferente nos Estados.

Nova política •

Desde julho do ano passado, a Petrobrás passou adotar um novo modelo de reajuste dos preços dos combustíve­is, seguindo mais de perto as oscilações do mercado externo.

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Sem efeito •Governo acredita que por conta de cartéis, benefícios da nova política de preços da Petrobrás não chegam ao consumidor

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