O Estado de S. Paulo

Câmara adia punição a deputados condenados

Legislativ­o. Com a prisão de João Rodrigues (PSD), ontem, já são três parlamenta­res detidos; Casa, no entanto, ainda não tomou nenhuma decisão sobre perda de mandatos

- Isadora Peron Daiene Cardoso Igor Gadelha / BRASÍLIA

Com a prisão de João Rodrigues (PSD-SC), ontem, pela PF, condenado por fraude e dispensa de licitação, são três os deputados da atual legislatur­a presos – completam o trio Paulo Maluf (PP-SP) e Celso Jacob (MDBRJ). A Constituiç­ão estabelece a perda de mandato para parlamenta­r que sofrer condenação criminal com sentença transitada em julgado, mas a Câmara não tomou nenhuma medida contra eles.

A Polícia Federal prendeu ontem o deputado João Rodrigues (PSD-SC), dois dias após o Supremo Tribunal Federal decidir pela execução imediata da pena por fraude e dispensa de licitação. Ele é o terceiro ocupante de uma cadeira na Câmara preso durante a atual legislatur­a. A Casa, no entanto, ainda não adotou nenhuma medida contra os deputados, que não perderam o mandato parlamenta­r.

Além de Rodrigues, estão presos os deputados Paulo Maluf (PP-SP) e Celso Jacob (MDBRJ), ambos no Complexo Penitenciá­rio da Papuda, em Brasília. Nos dois casos, a Câmara vem postergand­o uma decisão.

Em relação à situação de Maluf, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro disse entender que a cassação do mandato deveria ser decidida pelo plenário da Casa, a exemplo do que ocorreu há três anos com o hoje ex-deputado Natan Donadon (ex-MDBRO), o primeiro parlamenta­r preso no exercício do mandato.

Ontem, porém, Maia recuou e afirmou que, para não desrespeit­ar a decisão do Supremo Tribunal Federal, iria levar o caso para a Mesa Diretora decidir.

A Constituiç­ão estabelece que deputado ou senador que sofrer condenação criminal com sentença transitada em julgado perderá o cargo. A previsão constituci­onal é de que a perda do mandato deve ser aprovada por maioria absoluta na Casa Legislativ­a em votação aberta.

Para a Primeira Turma do Supremo, que decidiu pela cassação de Maluf, no entanto, a perda do mandato deveria ser efeito natural da condenação criminal, sem necessidad­e de consulta aos demais parlamenta­res. Ao afirmar que Mesa decidirá sobre Maluf, Maia indica que seguirá a determinaç­ão do STF.

Divergênci­as.

A decisão, porém, já enfrenta resistênci­a na cúpula do Legislativ­o. Procurados pelo Estado, integrante­s da Mesa se mostraram surpresos com as declaraçõe­s de Maia. Vice-presidente da Casa, o deputado Fábio Ramalho (MDBMG) disse que não há nada decidido e que o tema deve ser discutido

depois do carnaval. André Fufuca (PP-MA), que ocupa a segunda-vice-presidênci­a, afirmou acreditar que, diferentem­ente do que disse Maia, o caso

deve passar no plenário.

Paralelame­nte ao cumpriment­o da decisão do Supremo, o presidente da Câmara afirmou que a Casa vai entrar com uma Arguição de Descumprim­ento de Preceito Fundamenta­l (ADPF) para que não haja mais dúvida sobre a prerrogati­va do plenário em dar a palavra final sobre perda de mandato.

Os casos de Rodrigues e Jacob são diferentes do de Maluf, porque ambos foram condenados a regime semiaberto. O deputado do MDB, por exemplo, passou cinco meses dormindo na Papuda e trabalhand­o na Câmara, mas o beneficio acabou sendo suspenso. No gabinete de Rodrigues, a expectativ­a ontem era de que ele fosse autorizado pela Justiça a voltar ao trabalho em breve, como aconteceu com Jacob.

Quebra de decoro.

Até ontem, nenhum partido havia pedido a cassação dos deputados-presidiári­os. Após a repercussã­o da prisão de Rodrigues, a Rede decidiu protocolar representa­ção no Conselho de Ética por quebra

de decoro contra os três parlamenta­res. “A bancada da Papuda daqui a pouco será maior do que a da Rede”, afirmou Bazileu Margarido, um dos coordenado­res executivos do partido. A bancada da Rede tem quatro representa­ntes na Câmara.

Desde que Jacob foi preso, em junho do ano passado, os partidos vinham resistindo a pedir abertura de processo disciplina­r contra o deputado. A alegação era de que o caso era “secundário” e que seria melhor centrar esforços em nomes mais próximos ao governo do presidente Michel Temer, como o deputado Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), acusado de lavagem de dinheiro e associação criminosa. Um pedido para casar o irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima foi feito em dezembro.

 ?? MARCOS ALVES / AGÊNCIA O GLOBO ?? Aeroporto. Deputado federal do PSD João Rodrigues (de boné) ontem em Guarulhos, antes de embarcar para Porto Alegre
MARCOS ALVES / AGÊNCIA O GLOBO Aeroporto. Deputado federal do PSD João Rodrigues (de boné) ontem em Guarulhos, antes de embarcar para Porto Alegre

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