Privilegiados x pagantes
Fiquei comovida com a manifestação dos magistrados em defesa do auxílio-moradia que recebem – e cuja continuidade defendem – como forma de compensação pela ausência de reajustes salariais. Como se, com o salário que recebem, coubessem mais reajustes na situação de penúria em que se encontra o nosso Brasil. Mas faremos de tudo para ajudar as excelências a não passarem necessidades corriqueiras, como as que nos afligem. E não nos esqueceremos dos penduricalhos. Ora, como os três Poderes têm regalias absurdas, em detrimento dos vencimentos do trabalhador comum, que com seus parcos salários sem privilégios ainda têm de pagar todas as suas “regalias”, como saúde, segurança, educação, além da manutenção da própria vida, confortamo-nos com dois editoriais de ontem do Estado (A3), O desejo de ser exceção – “todos são iguais perante a lei...”, artigo 5.º da Constituição de 1988 –e Horizonte estreito. E concluímos que no Brasil há dois tipos de epidemia, a da febre amarela, nitidamente por negligência, e a da incompetência – quando não má-fé – de todos os Poderes da República. Não é um paradoxo a Constituição ser desrespeitada em seus princípios básicos justamente por quem deveria, por obrigação profissional e moral, obedecer-lhe e fazê-la cumprir? Não, não é um paradoxo, é a amostragem clara de que há no Brasil uma cultura de endeusamento de qualquer cargo no serviço público e qualquer sujeito que se torna funcionário vai aderir à filosofia do empoderamento só por ser funcionário público! Só falta nos impingirem um “auxílio-óleo de peroba”, que pelo tamanho da cara de pau não seria nada pequeno.
CARMELA TASSI CHAVES tassichaves@gmail.com
São Paulo