O Estado de S. Paulo

Filhos de imigrantes ilegais pressionam Donald Trump.

Congresso busca acordo para reforma migratória; Donald Trump exige recursos para construção de muro e restrições à imigração legal

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Brenda Rodríguez faz uma contagem regressiva de quantos dias de proteção contra a deportação ela ainda tem antes que acabe a autorizaçã­o provisória de residir nos EUA concedida no âmbito do Daca, o programa que regularizo­u de maneira temporária a situação de jovens imigrantes levados ao país na infância. Ontem, ela ainda tinha 445 dias.

Nascida no México, Rodríguez chegou aos Estados Unidos há 15 anos, quando tinha 9 anos. Seu sentimento ontem era de frustração e raiva diante do acordo bipartidár­io do Senado que aprovou gastos adicionais de US$ 300 bilhões em um pacto que não incluiu uma solução para o Daca.

“Mais uma vez, republican­os e democratas desapontar­am minha comunidade”, disse Rodríguez, que dentro de três meses se formará em espanhol e estudos sobre as mulheres. Seus pais e seus dois irmãos são imigrantes ilegais. “Sou a única de minha família protegida contra a deportação, mas meus dias estão contados”, afirmou Rodríguez, que nunca visitou o México após entrar nos EUA.

Os congressis­tas estão diante de outra contagem regressiva, ainda mais urgente: democratas e republican­os têm 24 dias para aprovar legislação que estenda o Daca de maneira provisória ou definitiva. O presidente Donald Trump disse que, se isso não ocorrer até o dia 5 de março, o programa será extinto. Os que ainda tiverem autorizaçõ­es válidas para permanecer no país poderão ficar legalmente até que o prazo de dois anos se esgote, mas não poderão mais solicitar a renovação do benefício.

Para o namorado de Rodríguez, Marco Antonio Arguelles Pérez, esse dia chegará dentro de um ano, logo após sua formatura em finanças e espanhol. Nascido no México, ele passou 20 de seus 24 anos de vida nos Estados Unidos. Seus pais são ilegais e seus irmãos mais novos são cidadãos americanos. “Se não houver proteção contra a deportação, nossa família será estilhaçad­a.”

A promessa de líderes republican­os e democratas é encontrar uma solução para o Daca em um projeto de reforma do sistema migratório que será discutido na próxima semana. Em troca, Trump exige recursos para construção de um muro na fronteira com o México, mais dinheiro para agentes de imigração e restrições à imigração legal para os EUA.

Estephanie De La Cruz, de 20 anos, seu irmão Giovani, de 25, e a irmã Maria José, de 17, são beneficiár­ios do Daca, enquanto seus pais vivem de maneira ilegal nos EUA. “Queremos uma solução permanente, que acabe com essa incerteza. Fiz minha vida aqui. Cresci aqui, minha casa é aqui e quero ter um futuro aqui.”

Nascida no México, ela afirma que o governo Trump tem uma posição ambígua em relação a imigrantes ilegais. “Ele acena com a legalizaçã­o dos mais jovens, mas adota uma posição dura em relação à geração mais velha, com ameaças de prisão e deportação.”

Mesmo com a frustração diante da exclusão do Daca da proposta orçamentár­ia, ela disse acreditar que o Congresso encontrará uma solução antes de 5 de março para os “dreamers”, como são chamados os jovens imigrantes.

“Nós queremos uma solução permanente, que acabe com essa incerteza. Fiz minha vida aqui. Cresci aqui, minha casa é aqui e quero ter um futuro aqui”

Estephanie De La Cruz ‘DREAMER’ DE 20 ANOS

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