OS JUROS DA FORTUNA DE KADAFI
Os ¤ 16 bilhões do ex-ditador rendem milhões em juros, mas não se sabe com quem fica o dinheiro
Seis anos depois da morte do ditador da Líbia, Muamar Kadafi, mais de ¤ 16 bilhões que estão congelados por sanções internacionais em fundos em Bruxelas rendem juros e dividendos. Para quem vai o dinheiro? Ninguém sabe.
O site americano Politico investigou documentos legais, extratos bancários, e-mails e conduziu dezenas de entrevistas para descobrir para onde estão indo as dezenas de milhões de euros em juros e dividendos dos investimentos de Kadafi, frutos de corrupção. A investigação descobriu que os pagamentos passaram de contas congeladas em Bruxelas para contas bancárias em Luxemburgo e no Bahrein nos últimos cinco anos.
Após a intervenção liderada pela Otan que derrubou Kadafi, assassinado em outubro de 2011, o país foi lançado em uma guerra civil em razão de uma disputa sectária entre dois grupos: um com base em Trípoli e apoiado pela ONU, e outro a leste de Tobruk, apoiado pelo Exército.
O dinheiro em Bruxelas, congelado por uma resolução da ONU, deve voltar para o governo líbio quando o país se estabilizar. Quem deveria administrar a bolada é a Autoridade de Investimento da Líbia (LIA), o fundo soberano do país. Mas a LIA está no centro da disputa de poder que assola o país desde 2011.
Enquanto isso, só entre abril de 2012 e abril de 2013, a LIA recebeu mais de ¤ 630 milhões do fundo supostamente congelado. As autoridades da Bélgica e da Europa afirmam que o congelamento segura apenas os ¤ 16 bilhões, não os dividendos dos ativos – por isso as transações seriam legais.
O líbio Mohsen Derregia, professor de economia na Universidade de Nottingham e executivo-chefe da LIA em 2012, antes de ser exonerado do cargo, afirma que o dinheiro não está sendo usado para o povo líbio. “Até agora, esses fundos foram gastos em disputas judiciais, e nada foi para a população.”