IPCA desacelera e fecha janeiro em 0,29%
Inflação surpreende e atinge o menor nível para o mês da série histórica, levando economistas a cogitar um novo corte na taxa básica de juros
A inflação no País voltou a surpreender no primeiro mês do ano. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,29% em janeiro, o menor resultado para o mês de toda a série histórica apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os preços subiram menos do que as previsões mais otimistas. Isso reacendeu, na opinião de alguns economistas, a possibilidade de um novo corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros ou pelo menos de manutenção da Selic no atual patamar por um período mais prolongado.
Com a boa notícia no cenário inflacionário, os contratos de juros de curto e médio prazos fecharam em queda ontem no mercado futuro. A maioria dos analistas ainda acredita que o ciclo de queda da Selic foi encerrado na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central de quarta-feira. Das 38 casas consultadas após a divulgação dos dados de inflação, quatro esperam um corte adicional de 0,25 ponto porcentual na reunião de março.
“(A Selic) Só cairá mais se a inflação corrente ficar ainda mais baixa, assim como as expectativas, e o cenário externo ficar menos volátil, o que acho difícil de acontecer”, avaliou a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour Chachamovitz.
“O BC encerrou o ciclo de queda da Selic em fevereiro? Provavelmente sim, mas o IPCA de hoje (ontem) pode abrir espaço para uma queda adicional. O número foi muito baixo e abre espaço para um IPCA mais baixo do que se imaginava”, ponderou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Gastos. Em janeiro, as famílias brasileiras gastaram mais com alimentação e transportes. O litro da gasolina subiu 2,44%. Foi o item de maior impacto sobre o IPCA, origem de um terço da inflação do mês. No supermercado, os vilões foram o tomate (45,71% mais caro) e a batata inglesa (alta de 10,85%).
A alta no preço dos alimentos, porém, veio dentro do padrão histórico, afirmou Fernando Gonçalves, gerente da Coordenação de Índices de Preços do IBGE. Nessa época do ano, de oscilações no clima, a oferta de alguns itens costuma ser afetada. “Já é problema de oferta.”
Por outro lado, a tarifa de energia ficou mais barata. A conta de luz diminuiu 4,73% em janeiro, por conta da substituição da bandeira tarifária vermelha patamar 1 em vigor em dezembro pela bandeira verde em janeiro, dando fim à cobrança do adicional de R$ 0,03 por kwh consumido. Apenas o item energia segurou a inflação do mês em 0,17 ponto porcentual.
Apesar da manutenção da bandeira verde incidente sobre as contas de luz, reajustes previstos em alguns itens monitorados devem pesar na inflação de fevereiro. Entre os mais caros em algumas regiões estão serviços de água e esgoto, gás encanado, ônibus urbano, táxi, trem, metrô, ônibus intermunicipal e pedágio. “Provavelmente Educação vai pesar mais”, previu Gonçalves.
A inflação de fevereiro costuma captar os reajustes escolares. Por isso, a expectativa é de ligeira aceleração do IPCA, segundo a Tendências Consultoria Integrada. “Em contrapartida, é esperada desaceleração dos preços dos alimentos, em linha com o repasse das pressões baixistas recentes do atacado para o varejo”, lembra Marcio Milan, analista da Tendências.