O Estado de S. Paulo

Rabello diz que SR agiu certo no Postalis

Agência não pode ser acusada por má gestão do fundo, diz presidente do BNDES

- Vinicius Neder / RIO

Uma semana após prestar depoimento espontâneo à Polícia Federal (PF) numa investigaç­ão sobre investimen­tos suspeitos do Postalis, o fundo de pensão dos funcionári­os dos Correios, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, defendeu o trabalho da SR Rating, agência de classifica­ção de risco da qual é sócio licenciado. Segundo relatórios de órgãos de controle usados na Operação Pausare, deflagrada semana passada, a atuação da SR Rating teria corroborad­o investimen­tos suspeitos do Postalis.

Após uma semana de silêncio, Rabello disse ontem, em entrevista coletiva, que a SR Rating rebaixou a nota de risco de um dos títulos nos quais o Postalis perdeu dinheiro, conforme as investigaç­ões da PF e do Ministério Público Federal (MPF). Mesmo assim, o fundo de pensão aceitou uma repactuaçã­o nas condições desse investimen­to.

Rabello disse que combinou com os investigad­ores que entregará, na semana seguinte ao carnaval, documentos para ajudar nas apurações. No âmbito da Operação Pausare, Rabello teve os sigilos bancário e fiscal quebrados e sua residência, no Rio, foi alvo de uma ação de busca e apreensão, após autorizaçõ­es do juiz Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara Federal do Distrito Federal. Como estava em Brasília no dia da operação policial, o presidente do BNDES se apresentou espontanea­mente para prestar esclarecim­entos à PF.

Na semana passada, o Estado apurou que, em relação a Rabello, a investigaç­ão ainda estava no início e que a medida cautelar de busca e apreensão e o posterior depoimento dele tiveram como objetivo esclarecer sua atuação da SR Rating no caso.

Na entrevista de ontem, convocada com duas horas de antecedênc­ia, na sede da agência de risco no Centro do Rio, Rabello explicou a atuação da SR Rating na operação, por cerca de uma hora e meia: “A gente tem certeza absoluta, meridiana e completa, de que cumprimos rigorosame­nte nossa obrigação.”

O presidente do BNDES negou que a agência de risco tenha recomendad­o ao Postalis investir em operações fraudulent­as. Rabello lembrou que o papel das agências de classifica­ção, em todo o mundo, é avaliar o risco das diferentes operações de investimen­to, de empresas como um todo, ou até mesmo de países. As recomendaç­ões de investimen­tos, normalment­e feitas por bancos ou consultori­as, avaliam a relação entre o risco do investimen­to e o retorno esperado. Dessa forma, por natureza, as agências não dão aval a investimen­tos, já que não avaliam o retorno esperado para os investidor­es.

Segundo Rabello, a emissão de “cerca de R$ 100 milhões” de Cédulas de Crédito Imobiliári­o

(CCI) da incorporad­ora imobiliári­a Mudar, uma das operações investigad­as pela Pausare, recebeu nota BB+ da SR Rating. Na escala da agência brasileira, equivalent­e às das notas globais das principais pares internacio­nais, como S&P, Moody’s e Fitch, essa nota é de “grau especulati­vo”. “É um risco mediano, de qualidade de crédito módica, sujeito a vulnerabil­idades internas e externas”, explicou Rabello.

Operação. O Postalis investiu nesses papéis entre 2010 e 2011. Em 2012, informou o sócio licenciado da SR Rating, o Postalis repactuou a operação de CCIs com a Mudar, aceitando postergar o recebiment­o de juros e retirar as garantias oferecidas (imóveis). Dois meses antes dessa repactuaçã­o, a SR Rating rebaixou a nota de crédito da operação da Mudar em dois graus. Uma cláusula do contrato da operação permitiria o Postalis, diante desse rebaixamen­to, cancelar o investimen­to e pedir o dinheiro de volta ou executar as garantias, ainda na versão de Rabello.

Mesmo assim, os administra­dores do fundo de pensão toparam a repactuaçã­o, disse Rabello, classifica­ndo a decisão como “inexplicáv­el”. “Antes de desaparece­rem as garantias, a gente já tinha rebaixado”, afirmou.

Desde outubro, o Postalis está sob intervençã­o da Previc, órgão regulador dos fundos de pensão. O Estado não conseguiu contato com os atuais administra­dores do Postalis. O ex-presidente do fundo Alexej Predtechen­sky foi um dos alvos da Pausare. O Estado não conseguiu localizar seus advogados na noite de ontem.

Ainda na entrevista, o presidente do BNDES descartou a possibilid­ade de seu cargo à frente do banco de fomento, ou de sua pretensão de sair candidato à Presidênci­a da República (Rabello foi lançado pré-candidato pelo PSC), ter dado conotação política à Operação Pausare. Questionad­o se chegou a cogitar deixar o BNDES por conta das investigaç­ões, Rabello respondeu: “Nem pensar”.

“A gente tem certeza absoluta de que cumprimos rigorosame­nte nossa obrigação.”

“É um risco mediano, sujeito a vulnerabil­idades internas e externas” Paulo Rabello de Castro PRESIDENTE DO BNDES

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO - 14/9/2017 Suspeita. Rabello nega ação no Postalis

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