O Estado de S. Paulo

Eletrobrás aprova venda de distribuid­oras

Com apoio de minoritári­os, governo vence diretoria da Eletrobrás e assembleia de acionistas define que dívida de R$ 19,7 bi fica com a estatal

- Anne Warth/ BRASÍLIA

A Eletrobrás aprovou ontem, em assembleia geral de acionistas, a privatizaç­ão das seis distribuid­oras de energia no Norte e Nordeste do País. Com 51% do capital votante, a União votou a favor da privatizaç­ão de todas as empresas, conhecidas por má gestão e pelo acúmulo de dívidas bilionária­s. Essa decisão era considerad­a fundamenta­l para abrir caminho para a privatizaç­ão da própria Eletrobrás, que deve ocorrer por meio de uma operação de aumento de capital, depois da qual a participaç­ão da União será reduzida.

Maior entrave ao processo de privatizaç­ão, a dívida dessas companhias, de R$ 19,7 bilhões, ficou integralme­nte com a holding. O voto contrariou a orientação da diretoria da empresa, que defendia que a Eletrobrás ficasse com R$ 11,2 bilhões dos débitos e os restantes R$ 8,5 bilhões fossem assumidos pelos futuros concession­ários.

A posição da União permitirá que as distribuid­oras sejam adquiridas “limpas” pelos novos investidor­es. Sozinho, o governo já conseguiri­a aprovar a venda do controle das empresas e evitar a liquidação. Mas acionistas minoritári­os deram apoio massivo ao voto da União. A avaliação era de que era melhor assumir toda a dívida do que correr o risco de não vender as empresas e, eventualme­nte, liquidá-las.

O voto do governo foi lido pelo coordenado­r-geral substituto de assuntos societário­s da Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), Luiz Frederico de Bessa Fleury, e assinado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Além da PGFN, o voto contou com a análise do Tesouro Nacional e da Secretaria de Coordenaçã­o e Governança das Empresas Estatais (Sest) do Ministério do Planejamen­to.

Envolvido no processo de privatizaç­ão das empresas, o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) se absteve de votar.

Protesto. A assembleia foi marcada por protestos de sindicalis­tas e trabalhado­res das distribuid­oras, que bloquearam o acesso dos acionistas ao auditório no edifício da sede da empresa em Brasília (DF). Marcada para as 14 horas, a reunião só começou às 17h18.

Devido à impossibil­idade de acesso ao auditório, parte dos acionistas acompanhou as deliberaçõ­es de outra sala do edifício, com transmissã­o ao vivo. A assembleia – que foi aberta pelo diretor Financeiro e de Relações com Investidor­es, Armando Casado, e encerrada pelo presidente da companhia, Wilson Ferreira Jr - chegou a ser suspensa por ameaças de invasão dos trabalhado­res, mas foi retomada após a intervençã­o de policiais militares e federais.

O voto da União teve duas condiciona­ntes. Uma diz respeito à Amazonas Energia. A diretoria da Eletrobrás havia estabeleci­do como condição para privatizaç­ão que houvesse reconhecim­ento, por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do governo ou da Justiça, em decisão definitiva, do direito ao reembolso integral, pelos fundos setoriais, dos gastos da empresa com o fornecimen­to de gás, no valor de R$ 2,9 bilhões. Em seu voto, o governo retirou essa exigência.

O governo também votou por manter o poder ao Conselho de Administra­ção para fazer o aumento de capital nas distribuid­oras no processo de privatizaç­ão. Porém para que isso ocorra, será preciso uma manifestaç­ão prévia favorável do Ministério da Fazenda.

As distribuid­oras de energia da Eletrobrás atuam nos Estados de Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Piauí e Alagoas. A intenção da empresa é leiloar as

distribuid­oras até o dia 30 de abril. Cada uma delas terá valor simbólico de R$ 50 mil.

Investimen­tos. Os novos investidor­es serão obrigados a assumir compromiss­os de investimen­tos no valor de R$ 7,8 bilhões nessas empresas, dos quais 30% serão depositado­s no momento da aquisição das companhias.

As distribuid­oras pertenciam a governos estaduais, mas foram assumidas pela Eletrobras no fim da década de 1990. A intenção era privatizá-las em seguida, mas elas ficaram quase 20 anos nas mãos da Eletrobrás. Nesse período, geraram prejuízo de mais de R$ 20 bilhões.

O plano da Eletrobrás ao desestatiz­ar as distribuid­oras é se concentrar nas áreas de geração transmissã­o e comerciali­zação de energia.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Ato. Protesto atrasou assembleia da Eletrobrás que definiu venda de seis distribuid­oras

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