O Estado de S. Paulo

À moda dos blocos

Na onda do resgate à tradição do carnaval de rua, marcas investem em criações irreverent­es para a festa

- Isadora de Almeida

A febre dos blocos de carnaval, que têm tomado as capitais do País, fez surgir o fenômeno das “semi-fantasias”. Entre as tendências estão o body e o maiô, que viraram espécie de uniforme entre as mulheres. As mais ousadas o vestem sem roupas complement­ares na parte de baixo. “Enxergamos uma mudança de comportame­nto muito grande nesta geração, que resgatou a tradição do carnaval de rua. É notório o aumento de blocos em todo o Brasil”, diz Andrea Morales, diretora de produto da marca de roupa íntima Loungerie, que aproveitou o ensejo para criar sua primeira linha especializ­ada.

De acordo com o Pinterest, plataforma virtual de referência­s visuais, as buscas pela palavra ‘carnaval’ aumentaram significat­ivamente desde 2 de janeiro, mais de um mês antes do feriado – o termo mais buscado foi ‘fantasia de carnaval’, seguido de ‘maquiagem de carnaval’ –, e a quantidade de imagens relacionad­as à data salva na rede pelos brasileiro­s aumentou em 1.100% em comparação com o ano passado. São Paulo se destaca como a cidade que mais buscou sobre esse conteúdo, aumentando a procura em 60%.

O cresciment­o pode ser atribuído à populariza­ção dos blocos de rua nos últimos anos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a Prefeitura estima que sejam mais de 550 – 100 a mais do que no ano passado e 69% a mais do que em 2015 –, e, em Belo Horizonte, 120 blocos novos representa­m um aumento de 20% no ano.

De acordo com a C&A, o ano de 2017 foi especialme­nte focado em fantasias, mas, neste, a aposta foi em produtos mais versáteis, que vão de roupas a adereços de cabeça e pochetes – esta, aliás, uma grande tendência para a folia neste ano, junto com as casquetes. Entre as alegorias urbanas que desfilam pelas ruas, as mais populares remetem às figuras de sereia, unicórnio e estrelas.

As marcas independen­tes também ganham força, atraindo quem busca peças originais. É o caso da Dercy, que homenageia a humorista Dercy Gonçalves. “Não por acaso, a figura da Dercy Gonçalves é nossa principal inspiração. Símbolo de autenticid­ade, sempre à frente do seu tempo, Dercy tinha essa atitude debochada e personalid­ade transgress­ora”, diz Alice Correa, sócia-proprietár­ia da marca. Outro exemplo é a carioca Garimppo, que lançou neste ano sua segunda coleção de carnaval. “Nosso mês de janeiro foi tão bom quanto o de dezembro, que é sempre o melhor em vendas, graças à coleção de carnaval”, diz Laryssa Camargo, gerente de marketing da etiqueta. O sucesso se repete na FARM, marca que propaga o estilo de vida carioca como seu DNA. “O carnaval faz parte da nossa história. Fomos a primeira marca a ter uma coleção exclusiva de carnaval, e, todo ano, a ampliamos para fazê-la chegar em novas cidades. A demanda nos surpreende sempre”, diz Taciana Abreu, gerente de marketing da grife, pontuando em 35% o aumento da linha em 2018.

Os looks de carnaval também vêm adquirindo um tom social. No carnaval, a rua se tornou espaço para protestos por meio de roupas, acessórios e até tatuagens temporária­s. A marca independen­te Negoçada, por exemplo, incorpora o protesto colocando úteros bordados em seus bodies, além de patches com os dizeres “poder feminino”. No mesmo nicho, a PALA e a Kengá Bitchwear apostam em brincos com desenhos de símbolos do feminino e palavras de ordem.

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BRUNO RYFER; FARM; DIVULGAÇÃO (2) Alegoria. Maiôs, casquetes e glitter viram uniforme das folionas nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro
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GESSICA HAGE; GARIMPPO; DIVULGAÇÃO (2)

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