O Estado de S. Paulo

Planalto não sabe o que fazer com insatisfaç­ão dos aliados após suspensão da concessão de empréstimo­s da Caixa.

- Adriana Fernandes

OPalácio do Planalto não sabe o que fazer com a insatisfaç­ão geral dos aliados políticos depois da suspensão da concessão dos empréstimo­s da Caixa Econômica Federal e de outros bancos públicos para Estados e municípios sem aval da União.

A liberação de uma série de financiame­ntos ao longo do ano já estava a caminho como uma importante arma política. Grande parte para governos com grande fragilidad­e nas contas.

Os empréstimo­s dariam fôlego às finanças regionais neste ano, quando os governante­s querem e precisam mostrar suas obras de olho na eleição.

O assunto é tão delicado politicame­nte que mobilizou o presidente Michel Temer e os ministros mais influentes. Todos querendo saber por que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não conseguiu barrar a decisão do conselho de administra­ção da Caixa que suspendeu a análise dos empréstimo­s novos.

Tudo parou depois de revelado que as garantias que estavam sendo dadas, as receitas tributária­s futuras dos Estados e municípios, eram inconstitu­cionais.

Em princípio, a ordem do comando da Caixa foi dizer que as operações estavam todas regulares e sendo feitas havia 30 anos. Ministros chegaram a comemorar nas redes sociais que a presidente do conselho da Caixa, Ana Paula Vescovi, tinha sido “enquadrada” depois que o colegiado distribuiu uma nota oficial afirmando que as operações eram regulares.

Foi Ana Paula, a secretária do Tesouro, que conduziu o processo para barrar os empréstimo­s enfrentand­o o comando do banco.

O imbróglio, que parecia prestes a ser superado com a liberação dos empréstimo­s, ganhou vulto maior depois que o procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) fez nesta semana uma dura representa­ção, não só condenando as operações como cobrando explicaçõe­s do Banco Central.

Outros bancos, públicos e privados, terão de suspender também as operações, caso a representa­ção seja acatada pelo ministro José Múcio Monteiro, vice-presidente do TCU.

O Banco Central, que há até pouco tempo preferia classifica­r o problema de “orçamentár­io”, divulgou uma regra exigindo mais capital dos bancos nessa operação.

Não se sabe se por pressão ou não, o Banco Central não entrou no cerne do debate: a garantia ilegal. O regulador do sistema financeiro tangenciou e preferiu esperar a posição do TCU.

O estoque dos empréstimo­s, ou seja, as operações já feitas no passado, ficou de fora das exigências mais duras de capital.

O BC não quis saber se era ilegal ou não a garantia. A interpreta­ção dos políticos foi a de que o BC abriu a porta para a continuida­de das operações desde que os bancos aumentem as reservas de capital.

A decisão animou logo os políticos, que esperam para muito breve o anúncio da volta da liberação dos empréstimo­s da Caixa que já estavam em análise. A ver.

Mas é bom lembrar que a proibição de uso de receitas com tributos como garantia foi incluída na Constituiç­ão para impedir que os políticos de hoje comprometa­m a arrecadaçã­o futura dos seus Estados e municípios.

Como disse o procurador Julio Marcelo de Oliveira, que apresentou a petição: “O político quer gastar o máximo possível. Quer gastar o dinheiro que ele tem e que o Estado ainda vai ter”.

Popular. A reforma da Previdênci­a ainda não foi nem mesmo enterrada oficialmen­te e o Palácio do Planalto já trabalha numa agenda de “medidas populares”. Os primeiros sinais foram dados com o pedido do presidente Michel Temer para a redução do preço do gás de cozinha para famílias de baixa renda por meio do Bolsa Família (ler mais na pág. B1).

A estratégia usada agora pelo presidente, que já não esconde mais o seu plano de se reeleger ao cargo, é a mesma usada há quatro anos pela ex-presidente Dilma Rousseff quando se reelegeu. A agenda econômica importante continua de lado.

A estratégia usada agora por Temer é a mesma usada pela ex-presidente Dilma

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