O Estado de S. Paulo

Registrado massacre étnico em Mianmar

Repórteres da ‘Reuters’ foram presos após investigaç­ão que prova execuções de muçulmanos

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Amarrados juntos, dez cativos da minoria muçulmana rohingya viram seus vizinhos budistas cavarem uma vala. Pouco depois, na manhã do dia 2 de setembro, todos estavam mortos. Ao menos dois foram decapitado­s por moradores budistas e os outros foram baleados por soldados, segundo alguns daqueles que abriram a vala.

A agência Reuters entrevisto­u moradores budistas que confessara­m ter incendiado casas de rohingyas, enterrado corpos e matado muçulmanos. Pela primeira vez, soldados e policiais paramilita­res foram implicados por testemunho­s de agentes de segurança. Três fotos flagraram momentos cruciais do massacre, da detenção de homens rohingyas por parte de soldados no início da noite de 1.º de setembro a sua execução pouco depois das 10 horas do dia seguinte. Uma das imagens mostra os mesmos homens, já mortos, em uma vala comum.

A investigaç­ão da Reuters levou autoridade­s policiais a prender dois repórteres da agência, Wa Lone e Kyaw Soe Oo, em 12 de dezembro, sob acusação de terem obtido documentos confidenci­ais. As mortes marcaram mais um episódio da violência que assola o Estado de Rakhine, no norte do país. Os rohingyas acusam o Exército de cometer incêndios criminosos, estupros e assassinat­os. A reportagem da Reuters levou o governo dos EUA a exigir que as autoridade­s birmanesas cooperem em uma investigaç­ão independen­te sobre o caso.

A ONU afirmou haver sinais de genocídio por parte do Exército. Mianmar alega que sua “operação de libertação” é uma resposta legítima aos ataques de insurgente­s.

Os rohingyas afirmam estar presentes em Rakhine há séculos, mas a maioria dos habitantes do país de maioria budista os considera imigrantes muçulmanos indesejáve­is de Bangladesh. O Exército se refere aos membros da minoria como “bengalis” e a maior parte deles não tem cidadania. Desde agosto, quase 690 mil fugiram e cruzaram a fronteira com Bangladesh fugindo da violência.

 ?? MYANMAR-RAKHINE/REUTERS ?? Execução. Dez muçulmanos da etnia rohingya se ajoelham antes de serem mortos em vilarejo de Rakhine, em Mianmar
MYANMAR-RAKHINE/REUTERS Execução. Dez muçulmanos da etnia rohingya se ajoelham antes de serem mortos em vilarejo de Rakhine, em Mianmar

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