CRIVELLA ABRE CARNAVAL, MAS EVITA REI MOMO
No segundo ano de mandato, prefeito do Rio tenta reverter imagem de anticarnavalesco
Após muito suspense, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), compareceu ontem à cerimônia de entrega simbólica da chave da cidade ao Rei Momo, que abre oficialmente o carnaval carioca. Mas evitou passar o símbolo às mãos do monarca: deixou a tarefa para o filho de um ex-funcionário da prefeitura ligado aos desfiles das escolas de samba.
A “passagem de comando” vinha cercada de expectativa porque se trata de um gesto tradicional dos prefeitos. No ano passado, o primeiro de sua gestão, Crivella não apareceu, o que contrariou as escolas. O gesto foi interpretado como sinal de descaso. A animosidade piorou este ano, com a redução da verba destinada à preparação dos desfiles por cada agremiação.
Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, que condena a folia, Crivella vem sendo tachado pelas escolas e por foliões de blocos de prefeito anticarnavalesco.
Os dirigentes das agremiações o veem como um traidor, uma vez que o apoiaram em sua campanha eleitoral, em 2016. Crivella nega as acusações e culpa a crise econômica.
Aconselhado por assessores, o prefeito vem tentando mudar essa imagem. Não é tarefa fácil, na análise de pessoas que lhe são próximas. Crivella busca acenar para sua base evangélica conservadora e, ao mesmo tempo, tenta não desagradar ao restante da população.
Ontem, o prefeito fez duas vistorias nas instalações de som e luz da Sapucaí e deu declarações controversas. Disse que “o carnaval é apenas uma festa”, não sendo prioritária. Afirmou que “o sonho” da prefeitura é que as escolas sejam financiadas, no futuro, apenas pela iniciativa privada. Na visita feita pela manhã, antes da entrega da chave, desdenhou da cerimônia. “Esse negócio da entrega da chave está virando um dogma religioso. A vida inteira se entregou chave para o Rei Momo. Melhorou a educação? Melhorou a saúde? Se não entregar vai ter crise da dengue? Enchente no verão? Queria saber: me cobram tanto para entregar essa chave, tem alguma relevância?”