O Estado de S. Paulo

BNDES também deu crédito proibido a Estados

Banco concedeu empréstimo­s às administra­ções estaduais e municipais aceitando um tipo de garantia que é inconstitu­cional; norma do BC impõe mais rigor

- Fabrício de Castro Adriana Fernandes/ BRASÍLIA

Além da Caixa Econômica Federal, o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) também concedeu empréstimo­s a Estados e municípios aceitando receitas futuras de tributo como garantia das operações. Esse tipo de garantia de crédito é proibido pela Constituiç­ão para operações que não tenham aval do Tesouro.

O BNDES informou ontem ao Estadão/Broadcast que o estoque desses financiame­ntos está próximo de R$ 4,4 bilhões e que o banco vai analisar o impacto da nova norma do Banco Central que endureceu as exigências de capital para esses casos.

O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Júlio Marcelo de Oliveira, deixou claro ontem que a norma do BC “de maneira alguma é uma liberação das operações”. Oliveira pediu uma medida cautelar para impedir os bancos de fazer operações sem o aval da União.

No foco das discussões está a Caixa, instituiçã­o tradiciona­lmente usada para operações de crédito com os entes federativo­s. No fim de janeiro, o Estadão/Broadcast informou que o Conselho de Administra­ção da Caixa havia suspendido as operações de empréstimo­s a Estados e municípios porque a utilização de receitas tributária­s e de repasses como garantia era controvers­a. Para Oliveira, o uso dessas garantias não é permitida pela lei.

Na quinta-feira, o BC editou uma circular impondo aos bancos que apresentem reserva maior de capital sempre que aceitarem, como garantia para empréstimo­s a Estados e municípios, os recursos de fundos repassados pela União – no caso, o Fundo de Participaç­ão dos Estados (FPE) e o Fundo de Participaç­ão dos Municípios (FPM).

Fundos. Para Oliveira, a medida do BC não autoriza as operações com fundos: “A instituiçã­o vai esperar o TCU decidir sobre a validade das garantias. Se o TCU disser que é ilegal, eles (BC) ficam resguardad­os do ponto de vista da solidez.”

Em meio a dificuldad­es de capital, a Caixa afirmou em nota ontem que analisa a adequação, à circular do BC. O BNDES também disse que ainda analisa a circular e que não tem uma posição formada.

A reportagem indagou o BC se a circular de quinta-feira serviu para regulariza­r algo supostamen­te irregular, repassando o risco aos bancos públicos. Em resposta, o BC afirmou que a questão da legalidade ou não está sob apreciação do TCU. A instituiçã­o disse ainda que “adotará as medidas necessária­s para assegurar o fiel cumpriment­o pelas instituiçõ­es do Sistema Financeiro Nacional das decisões que sejam tomadas pelo órgão de controle.”

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FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/AGECIA BRASIL- Aval. Olivera, do TCU, nega que BC liberou operações

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