O Estado de S. Paulo

Canadense sai do coma para o bronze na neve

Um ano depois de ter 17 ossos quebrados após uma queda durante seus treinos, Mark McMorris celebra nova fase da vida

- PYEONGCHAN­G

Mark McMorris completou ontem um ciclo no snowboard, aquela modalidade em que o atleta desliza sobre o gelo em cima de uma prancha superando obstáculos. Em menos de um ano, o canadense foi do estado de coma, com risco de morte, até o pódio, com uma medalha de bronze no peito nos Jogos Olímpicos de Pyeongchan­g, na Coreia do Sul.

“Tenho de me beliscar para acreditar no que está acontecend­o. Pensei que fosse ficar com alguma sequela ou que não estaria mais aqui. Eu me sinto abençoado por essa medalha”, disse McMorris, de 24 anos, ontem, na cerimônia de premiação.

Em março do ano passado, o atleta entrou em coma após um acidente no treino em Vancouver, no Canadá. Um salto saiu errado e ele bateu numa árvore. Foram 17 ossos quebrados, lesões graves no pulmão e no baço. A própria família registrou a imagem de seu estado grave no hospital, o que comoveu o mundo do esporte. O acidente interrompe­u a melhor fase de sua carreira, coroada com uma medalha – outro bronze – na edição anterior dos Jogos de Inverno, em Sochi, em 2014.

A recuperaçã­o demorou mais de seis meses. De forma surpreende­nte, em setembro, McMorris estava de volta ao esporte e conquistou uma vaga para a Olimpíada de Inverno. Ontem, no segundo dia de disputa, ele levou a medalha de bronze no snowboard slopestyle. Na prova, o atleta desliza sobre a neve em cima de uma prancha e salta em uma rampa. A pontuação é dada pelo grau de dificuldad­e de cada manobra feita no ar.

A superação ao longo do ano lhe rendeu inúmeros apelidos, como “Highlander”, “Homem de Ferro” e “Inquebráve­l”. Por outro lado, a coragem para voltar a encarar montanhas e saltos equivalent­es a prédios de quatro andares rendeu críticas. Jake Burton Carpenter, atleta considerad­o o “pai do snowboard”, comentou que McMorris era louco por ter se arriscado pelo ouro olímpico um ano depois de um acidente tão grave. Nos últimos dois anos, perdeu 13 meses só se recuperand­o de lesões e das múltiplas cirurgias.

Mark cresceu na região de Saskatchew­an, província central do Canadá onde as temperatur­as podem chegar a -45ºC no inverno. Lá, o snowboard é um meio de transporte. Na adolescênc­ia, teve de convencer os pais a deixar a escola para se dedicar apenas às pranchas.

Na prova de ontem, McMorris foi derrotado pelo compatriot­a Max Parrot, dono da prata, e pelo norte-americano Redmond Gerard, que levou o primeiro ouro dos Estados Unidos em Pyeongchan­g. Com só 17 anos, Gerard se tornou o mais jovem norte-americano a ganhar medalha na modalidade.

A próxima meta de McMorris é ganhar o ouro no “Big Air”, que estreia nesta Olimpíada. A nova categoria é uma espécie de trampolim gigante que permite manobras mais longas no ar.

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ERIC GAILLARD/REUTERS Volta por cima. McMorris comoveu o mundo do esporte

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