O Estado de S. Paulo

Partido manda Zuma renunciar na África do Sul

Desfecho. Alvo de denúncias de corrupção, líder sul-africano perde apoio da cúpula de seu próprio grupo político, que tem poder de mudar o chefe de Estado; no cargo desde 2009, ele não chegará ao fim de seu segundo mandato, programado para terminar em 201

- PRETÓRIA / NYT

A cúpula do Congresso Nacional Africano (CNA) – partido que governa a África do Sul desde o fim do apartheid – mandou o presidente Jacob Zuma renunciar ao cargo. Constituci­onalmente, ele não é obrigado a obedecer, mas pode ser destituído no Parlamento. A pressão sobre Zuma cresceu após rival assumir o CNA.

A cúpula do Congresso Nacional Africano (CNA) – partido que governa a África do Sul desde o fim do apartheid – determinou ontem ao presidente Jacob Zuma que renuncie ao cargo, a pouco mais de um ano das eleições gerais de 2019. A pressão sobre Zuma, envolvido em diversas denúncias de corrupção, aumentou depois da troca no comando do CNA, agora a cargo de Cyril Ramaphosa, rival de Zuma.

O confronto interno do partido, que perdeu a aura heroica do passado em razão de denúncias generaliza­das de corrupção, paralisou a África do Sul. Antes blindado pelo CNA apesar das denúncias da oposição, Zuma viu-se isolado após a chegada de Ramaphosa ao cargo.

O secretário-geral do CNA, Ace Magashule, disse que não há um ultimato para Zuma, mas ele deve responder hoje se deixa ou não o cargo. O presidente havia aceitado renunciar em 3 ou 6 meses, mas a proposta não foi aceita por seus colegas de partido.

Constituci­onalmente, Zuma não é obrigado a obedecer. Nesse caso, ele poderia ser destituído por meio de uma moção no Parlamento nos próximos dias.

Na conferênci­a geral do partido, em dezembro, Ramaphosa, que desde 2014 é o vice-presidente do país, foi eleito para suceder Zuma no comando do CNA. Na ocasião, ele derrotou a ex-mulher de Zuma, Nkosazana Dlamini-Zuma, apoiada pelo presidente na disputa.

Desde então, Ramaphosa e seus aliados têm pressionad­o Zuma para entregar o cargo,

apesar de seu mandato só acabar em meados de 2019. Na avaliação dessa facção, o novo presidente do CNA deve assumir o comando do país o quanto antes

para reconstrui­r o partido e reconquist­ar eleitores decepciona­dos com os frequentes escândalos de corrupção e resultados ruins na economia que marcam a era Zuma.

Partidos da oposição também pressionam pela saída de Zuma, mas preferem que as eleições do ano que vem sejam antecipada­s, em uma aparente tentativa de capitaliza­r o descontent­amento geral com o CNA. A oposição também defende a antecipaçã­o da votação de uma nova moção de desconfian­ça contra Zuma no Parlamento, que está marcada para o dia 22.

Se Ramaphosa não conseguir concluir as negociaçõe­s para Zuma renunciar antes dessa votação, o CNA terá duas opções pouco atrativas: votar com a oposição, que reivindica­rá o crédito por derrubar Zuma, ou defender o presidente e arcar com o prejuízo político dessa escolha.

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JOAO SILVA/THE NEW YORK TIMES Isolamento. Além de retirar apoio interno de Jacob Zuma no CNA, denúncias de corrupção paralisara­m governo da África do Sul

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