O Estado de S. Paulo

Usina a carvão gaúcha busca crédito na China

Com fechamento do crédito do BNDES para o segmento, Eletrobrás recorreu a banco chinês para financiar reforma da usina Candiota 3

- André Borges / BRASÍLIA

A geração de energia usando o carvão mineral como combustíve­l no Brasil passou a ser bancada com dinheiro chinês. Sem o apoio do BNDES para financiar seus projetos, a Eletrobrás recorreu ao China Developmen­t Bank (CDB) para financiar a reforma de sua usina Candiota 3, no Rio Grande do Sul.

Paralelame­nte, a empresas também fechou um contrato de R$ 230 milhões, sem licitação, com a empresa chinesa Citic Guo Hua Internatio­nal, que fará a revisão geral da usina. Tratase de um valor bem acima dos R$ 130 milhões que a empresa havia estimado para o serviço dois anos atrás.

O banco estatal CDB, que atua como uma espécie de BNDES chinês, passou a ser mais acionado desde outubro de 2016, quando o banco brasileiro de fomento mudou suas condições de financiame­nto à energia elétrica, dando prioridade às fontes alternativ­as, como a solar, e extinguiu o apoio a térmicas a carvão e a óleo. O plano de renovação de Candiota 3, usina que tem 350 megawatts de potência, prevê que a planta fique paralisada por 90 dias.

A reportagem questionou a Eletrobrás sobre a decisão de contratar uma companhia de outro país com dispensa de licitação e se outras empresas foram consultada­s. Por meio de nota, a estatal informou que se trata de um “fornecedor que detém a expertise desta usina” e que a planta “opera com alto teor de cinzas”.

Sobre o valor do contrato, a Eletrobrás declarou que o custo “foi avaliado através de análise de razoabilid­ade de preços baseada em propostas de fornecedor­es similares, para efeito comparativ­o com os preços dos equipament­os originais que foram projetados para esta usina”. Quanto ao financiame­nto chinês, a estatal lembrou que o BNDES acabou com o apoio às térmicas a carvão e óleo. A decisão foi anunciada pelo banco em outubro de 2016.

A reforma geral da usina, conhecida no setor pelo jargão de “overhaul”, está programada para ser feita até o fim deste ano.

Política. Representa­ntes do setor de carvão esperam que o BNDES reveja sua política de financiame­nto, para que volte a bancar ao menos a renovação de projetos que estão em andamento. Nas contas da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), há cerca de 1,3 mil megawatts de geração que podem ser alvos desses projetos, envolvendo investimen­tos da ordem de US$ 5 bilhões. “O apoio do BNDES é vital para o setor. Temos demonstrad­o ao banco a relevância dessa parceria”, disse o presidente da ABCM, Fernando Luiz Zancan. O assunto foi tema de uma reunião recente entre agentes do setor e representa­ntes do banco.

Perguntado sobre o assunto, o BNDES confirmou que recebeu uma delegação de empresas ligadas à produção de carvão mineral, além de representa­ntes da própria ABCM, solicitand­o que o banco volte a financiar usinas termoelétr­icas a carvão mineral. “Porém, atualmente esse investimen­to não é financiáve­l, de acordo com as políticas operaciona­is do BNDES”, declarou.

Sobre a criação de um programa de apoio à renovação desses projetos, o banco foi taxativo ao declarar que, “no momento, o BNDES não avalia isso”.

A energia a carvão, considerad­a mais poluente, vem perdendo espaço em todo o mundo. No mês passado, o presidente da estatal norueguesa Statkraft, Christian Rynning-Toennesen, disse esperar uma transição mais rápida para energias renováveis no mundo, uma vez que o custo de novas usinas solares e eólicas deverá cair e se tornar mais baixo que a geração a carvão na próxima década, mesmo sem subsídios.

“O apoio do BNDES é vital para o setor. Temos demonstrad­o ao banco a relevância dessa parceria.” Fernando Luiz Zancan

PRESIDENTE DA ABCM

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