O Estado de S. Paulo

Os gastos das federais

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Os gastos das universida­des federais passaram de R$ 33 bilhões para R$ 46,1 bilhões, entre 2009 e 2016, um aumento de 40%, em valores atualizado­s. No mesmo período, o custo anual médio por aluno caiu de R$ 38,8 mil para R$ 37,5 mil. O custo mais alto, no valor de R$ 81,1 mil por aluno, é da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp). O mais baixo, de R$ 14,1 mil por aluno, é da Universida­de Federal do Amapá (Unifap). Já as despesas obrigatóri­as com pessoal ativo e inativo consumiram 86,9% do orçamento dessas instituiçõ­es.

Os números são do Censo da Educação Superior, que levam em conta alunos de graduação e pós-graduação e englobam despesas com residência médica e assistênci­a estudantil. As informaçõe­s estão sendo usadas pelo Ministério da Educação (MEC) para avaliar a situação administra­tiva e financeira de cada uma das 63 universida­des mantidas pela União.

As autoridade­s educaciona­is entendem que a maioria está sendo mal gerida, apresentan­do falhas graves em matéria de planejamen­to e morosidade na implementa­ção de políticas de readequaçã­o orçamentár­ia. O ministro da Educação, Mendonça Filho, afirma que o próximo governo não poderá deixar de promover uma reforma universitá­ria e reconhece que, apesar de polêmica, a cobrança de mensalidad­es terá de ser discutida com a sociedade, já que o MEC não tem como transferir mais recursos para o setor. “Há universida­des que cumprem suas obrigações e há aquelas que, com os mesmos recursos em termos proporcion­ais, não conseguem quitar contas, pedindo à mamãe MEC que faça transferên­cias para honrar a dívida”, afirma o ministro.

Os reitores negam os problemas de gestão e alegam que a paralisia de obras, a suspensão do fornecimen­to de água e energia e a falta de recursos para contrataçã­o de professore­s foram causadas pelos cortes orçamentár­ios promovidos pela equipe econômica do governo Michel Temer.

Alguns também questionam a metodologi­a utilizada para apurar o gasto médio por aluno e acusam o MEC de não levar em conta o perfil de cada instituiçã­o, o número de alunos em tempo integral e as atividades de extensão e pesquisa. As críticas mais contundent­es partiram dos reitores nomeados pelo governo anterior, que classifica­ram como “irrealista” e “simplista” o diagnóstic­o da crise do ensino superior feito pelo órgão.

“A universida­de pública faz muito projeto social e ninguém olha para isso”, afirma a reitora da Unifesp, Soraya Smaili. “As universida­des públicas estão entre as poucas instituiçõ­es estatais que dão resultados para a sociedade. A educação pública é investimen­to, não um gasto, e depende, basicament­e, de uma decisão política”, diz Emmanuel Tourinho, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituiçõ­es Federais de Ensino Superior (Andifes).

Na realidade, a crise das universida­des federais começou com a irresponsá­vel política de expansão do ensino superior nos dois mandatos do presidente Lula. Pondo o marketing eleitoral à frente de critérios técnicos, o governo Lula criou instituiçõ­es sem estudos prévios e sem objetivos precisos, como é o caso, por exemplo, da Universida­de da Integração Internacio­nal da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), que hoje apresenta o segundo maior custo por aluno com assistênci­a estudantil, segundo o Censo da Educação Superior.

Com a recessão econômica e a queda na arrecadaçã­o de impostos, era inevitável que o aumento das despesas fixas causado pela expansão da rede de universida­des federais acabasse estrangula­ndo o orçamento do MEC. Como o órgão atua em diferentes áreas, não faz sentido que ele gaste todos seus recursos apenas no ensino superior.

Por isso, ao cobrar mais eficiência de gestão e planejamen­to dos reitores das universida­des federais, pois as contas públicas não fecham, o governo nada mais está fazendo do que cumprir sua obrigação.

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