O Estado de S. Paulo

Maduro promete ir sem convite a cúpula no Peru

Presidente acusa líderes sul-americanos de isolar Venezuela no cenário diplomátic­o regional, como ocorreu com Cuba nos anos 60

- CARACAS /

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, prometeu ontem desafiar a decisão do governo peruano de vetar sua presença na Cúpula das Américas, que reunirá chefes de Estado do continente entre 13 e 14 de abril, em Lima. O governo do presidente Pedro Pablo Kuczynski declarou que Maduro não será bemvindo no país. Segundo o chavista, a recusa é uma tentativa de isolar seu país diplomatic­amente.

“Eles têm medo de mim? Não querem me ver em Lima? Verão, pois eu irei – chova, trovoe ou relampeje. Por ar, mar ou terra, chegarei à cúpula com a verdade da Venezuela”, disse Maduro à imprensa. Na terça-feira, em reunião do chamado Grupo de Lima – grupo de 15 países que monitoram a crise venezuelan­a –, o convite para Maduro participar da cúpula foi retirado.

“Querem repetir com a Venezuela o que fizeram com Cuba”, disse Maduro, em referência à suspensão da ilha da Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), após a chegada de Fidel Castro ao poder. “Na Venezuela, mandam os venezuelan­os, não o Grupo de Lima, não Pedro Pablo Kuczynski, não (o presidente da Colômbia) Juan Manuel Santos. Mandam as instituiçõ­es e os venezuelan­os.”

No fim da tarde de ontem, a chancelari­a peruana informou que o líder venezuelan­o não poderá entrar no país sem convite. Maduro chamou o Grupo de Lima de “clube dos governos mais impopulare­s do planeta”, em referência aos índices de popularida­de ruins de Kuczynski, que recentemen­te escapou da destituiçã­o pelo Congresso. Carmen Luisa Velásquez, a representa­nte da Venezuela na OEA, também ironiza o grupo, chamado por ela de “Cartel de Lima.

Em razão do colapso econômico, a Venezuela sofre com a grave escassez de alimentos, de remédios e hiperinfla­ção. A antecipaçã­o das eleições para abril prejudicou a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD), que não decidiu se participar­á da disputa.

O Grupo de Lima é integrado por Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Costa Rica, Estados Unidos, Guiana e Santa Lúcia.

Unasul. Maduro também disse que o presidente da Argentina, Mauricio Macri, deveria convocar um encontro da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para debater a crise venezuelan­a. “Convoque um encontro, ouse, não tenha medo de mim, presidente Macri”, disse Maduro. “Se vocês querem falar sobre a Venezuela, vamos falar sobre a Venezuela.”

Os críticos ao chavismo dizem que Maduro há anos tem se recusado a escutar conselhos de que deveria reformar a economia em colapso da Venezuela. Na avaliação de países vizinhos, o fato de Maduro se recusar a reconhecer a crise humanitári­a no país torna inútil a tentativa de se reunir com ele.

Maduro afirma que os governos regionais de direita são parte de uma conspiraçã­o internacio­nal liderada pelos Estados Unidos para derrubá-lo e tomar as reservas de petróleo do país.

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