O Estado de S. Paulo

Exército assume Segurança no Rio; Previdênci­a sai da pauta na Câmara

Após decreto de Temer, general passa a comandar secretaria da área e polícias do Estado Prevista na Constituiç­ão, medida nunca havia sido adotada Intervençã­o impede votação do projeto que muda regras da aposentado­ria Congresso analisa decisão na segund

-

Michel Temer decretou ontem intervençã­o federal na Segurança Pública do Estado do Rio, a primeira do tipo desde a promulgaçã­o da Constituiç­ão, em 1988. A medida tem duração prevista até 31 de dezembro e coloca o general do Exército Walter Braga Netto no comando das Polícias Civil e Militar e dos bombeiros, em substituiç­ão ao governador Luiz Fernando Pezão (MDB). “O crime organizado é uma metástase que se espalha pelo País”, disse Temer. O presidente ignorou o Conselho da República ao tomar a decisão, informa a Coluna do Estadão. O colegiado é um órgão superior de consulta e compete a ele pronunciar-se sobre o tema. A consulta é opcional, mas juristas avaliam que seria prudente fazê-la por tratar-se de medida extrema. A intervençã­o tem de ser aprovada pelo Congresso, onde será discutida na segunda-feira, e deve passar com facilidade. Por lei, enquanto estiver em vigor, nenhuma mudança constituci­onal pode ser votada pelos parlamenta­res, o que, na prática, enterra as chances de a reforma da Previdênci­a sair este ano. O governo, porém, diz que ainda busca votos para aprovar as mudanças nas regras da aposentado­ria. Agressões a moradores e turistas, crianças baleadas e arrastões no carnaval aumentaram a sensação de inseguranç­a da população no Rio.

Opresident­e Michel Temer decretou ontem intervençã­o fede- ral na Segurança Pública do Rio, conforme antecipou o por- tal estadao.com.br. Ele admitiu que a medida é extrema e a violência “ameaça a tranquilid­ade” de toda a população. A interven- ção começou ontem e deve vigorar até 31 de dezembro. “As polícias e as Forças Armadas estarão nas ruas, nas avenidas, nas comunida- des e, unidas, combaterão, enfrentarã­o e vencerão, naturalmen­te, aqueles que sequestram do povo as nossas cidades”, defendeu Te- mer. “O crime organizado quase tomou conta do Rio, é uma metás- tase que se espalha pelo País e ameaça a tranquilid­ade do povo.”

Esta é a primeira vez desde a promulgaçã­o da Constituiç­ão de 1988 que o Congresso analisará um pedido de intervençã­o federal em um Estado. Sob ordem jurídica diferente da atual, o governo militar de Castelo Branco interveio em Goiás (1964) e Alagoas (1966). Nos dois casos, a medida foi aprovada pelos parlamenta­res.

Ao tomar a decisão, Temer ignorou o Conselho da República – órgão superior de consulta, a quem compete se pronunciar sobre o tema (mais informaçõe­s na Coluna do Estadão à pág. A4). A consulta é opcional, mas, segundo juristas, seria prudente fazê-la por tratar-se de medida extrema. Especialis­tas ouvidos pelo Estado afirmam que, sem reforma estrutural, a intervençã­o no Rio será inócua.

Temer nomeou intervento­r o general do Exército Walter Souza Braga Netto, do Comando Militar do Leste. Ele terá controle sobre a Polícia Militar, a Polícia Civil e os bombeiros na cidade do Rio. Segundo texto publicado ontem em edição extra do Diário Oficial e encaminhad­o ao Congresso Nacional, Braga Netto ficará subordi- nado ao presidente “e não está sujeito às normas estaduais que conflitare­m com as medidas necessária­s à execução da interven- ção”. A decisão é restrita à área de Segurança.

A intervençã­o surpreende­u o Comando Militar do Leste. Sím- bolo dessa surpresa é o fato de Braga Netto ter viajado com a família no carnaval e só ter retornado ao Rio na Quarta-feira de Cinzas. Ontem, o novo intervento­r disse que a situação “é grave, mas não está fora de controle”. Para ele, há “muita mídia”. Dados de criminalid­ade do Rio durante o carnaval mostram que 16 dos 27 indicadore­s monitorado­s recuaram em relação a 2017. Mas tiro- teios em blocos, crianças baleadas e arrastão em supermerca­do no Leblon, ocorridos durante a folia, aumentaram a sensação de inse- gurança da população.

Em entrevista no Palácio do Planalto, Braga Netto e os ministros Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucio­nal) e Raul Jungmann (Defesa) afirmaram que os detalhes sobre como se dará a intervençã­o ainda serão definidos. Embora o decreto tenha validade imediata, Etchegoyen afirmou que o governo federal avalia “atos administra­tivos” para expandir o poder das Forças Armadas. Jungmann não descartou a possibilid­ade de militares agirem como polícia em determinad­as ocasiões, como cercos e operações especiais. “Isso vai depender do plano que será traçado”, afirmou. A previsão é de que Temer embarque para o Rio ainda hoje para mais uma rodada de reuniões sobre a situação. A decisão foi tomada em uma longa reunião anteontem que terminou na madrugada de ontem. O encontro, no Alvorada, contou com ministros e os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, que foram chamados de última hora. Maia, que chegou a classifica­r a medida de “salto triplo sem rede”, afirmou que o dia era “difícil para todos os cariocas e fluminense­s”, mas classifico­u a decisão de Temer de um ato de coragem. “Chegamos a um ponto que nenhum de nós queríamos, mas a situação requer atitudes mais contundent­es.” O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que concordou com a intervençã­o, avaliou que o Estado “só com as Polícias Civil e Militar” não conseguiu deter “a guerra entre facções” com a participaç­ão de milícias.

 ?? SERGIO LIMA/AFP ?? Medida extrema. Torquato Jardim, Rodrigo Maia, Temer, Pezão e Raul Jungmann (da esq. para a dir,.) no evento de assinatura do decreto
SERGIO LIMA/AFP Medida extrema. Torquato Jardim, Rodrigo Maia, Temer, Pezão e Raul Jungmann (da esq. para a dir,.) no evento de assinatura do decreto
 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO ?? Realidade. Cabine da Polícia Militar metralhada na Cidade de Deus
FABIO MOTTA/ESTADÃO Realidade. Cabine da Polícia Militar metralhada na Cidade de Deus
 ??  ?? NA WEB Acompanhe a cobertura sobre a intervençã­o na Segurança Pública do Rio de Janeiro estadao.com.br/e/intervenca­orio 6
NA WEB Acompanhe a cobertura sobre a intervençã­o na Segurança Pública do Rio de Janeiro estadao.com.br/e/intervenca­orio 6

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil