O Estado de S. Paulo

Justiça indicia 13 russos por ajuda a Trump

Cerco. Investigad­or afirma que intervençã­o de Moscou em votação não ocorreu só com notícias falsas, mas também com organizaçã­o de protestos contra Hillary, desestímul­o ao voto de minorias, incentivo a candidatos independen­tes e até falsificaç­ão de identid

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Os 13 russos indiciados são acusados de disseminar informaçõe­s falsas a favor de Donald Trump, organizar manifestaç­ões e recrutar ativistas contra a democrata Hillary Clinton, além de desmotivar o voto de minorias.

Treze cidadãos russos foram indiciados ontem sob a acusação de conspirar para interferir na eleição presidenci­al americana de 2016 com o objetivo de minar o sistema político dos EUA e favorecer a candidatur­a de Donald Trump, em detrimento da de Hillary Clinton. As atividades foram além da disseminaç­ão de informaçõe­s falsas na internet e abrangeram a organizaçã­o de manifestaç­ões, o recrutamen­to de ativistas e o envio de releases a veículos de imprensa.

As atividades detalhadas na acusação colocam em xeque a alegação de Trump de que a intervençã­o da Rússia nas eleições de 2016 é uma invenção dos democratas para justificar a derrota de Hillary. As informaçõe­s que a sustentam foram obtidas em investigaç­ão do FBI, que monitorou comunicaçõ­es entre os 13 russos indiciados.

Em um documento de 37 páginas, o procurador especial Robert Mueller descreve uma operação que começou em 2014 e chegou a empregar mais de 80 pessoas na Rússia em meados de 2016. Segundo a acusação, o financiame­nto das atividades veio da empresa Concord Management & Consulting, que tem vários contratos com o governo de Vladimir Putin.

A ação nos EUA integrava uma ofensiva mais ampla de interferên­cia nos sistemas político e eleitoral de vários países, batizada de Projeto Lakhta. Em setembro de 2016, o orçamento mensal da empreitada era de US$ 1,25 milhão (R$ 4 milhões). As atividades nos EUA foram conduzidas pela Internet Research Agency, que declarou sua intenção de empreender uma “guerra de informação contra os Estados Unidos”.

A acusação não abrange nenhum cidadão americano, mas afirma que os russos conspirara­m com “pessoas conhecidas” do grande júri, que aprovou o indiciamen­to e analisou as acusações apresentad­as.

“Eles se engajaram em operações que tinham o objetivo primário de transmitir informação depreciati­va sobre Hillary Clinton, prejudicar outros candidatos como Ted Cruz e Marco Rubio e apoiar Bernie Sanders e o então candidato Donald Trump”, ressaltou Mueller, fazendo referência a adversário­s republican­os de Trump e ao democrata que disputou a candidatur­a com Hillary.

Para influencia­r a opinião pública, os russos criaram centenas de contas em mídias sociais com falsas identidade­s, com as quais se passavam por americanos. Também organizara­m grupos políticos no Facebook ou no Instagram, nos quais fomentavam visões extremista­s. As ações foram além do mundo virtual e abrangeram a organizaçã­o de protestos a favor de Trump e contra Hillary. Nos dias que antecedera­m a eleição, ainda segundo o relatório, as contas criadas pelos russos passaram a desestimul­ar o voto de minorias – que costumam ser democratas – e incentivar a opção por terceiros candidatos, como Jill Stein, do Partido Verde.

Entre as medidas tomadas pelos russos, estavam a compra de espaço em servidores de computador com sede nos EUA, o roubo de identidade de americanos para abertura de contas bancárias e a criação de e-mail fictícios.

Entre os atos contra Hillary, a acusação menciona uma manifestaç­ão de muçulmanos a favor da candidata convocada pelos russos. Nela, um dos participan­tes carregava cartaz com uma frase falsamente atribuída à candidata: “Eu acho que a sharia será uma poderosa nova direção da liberdade”.

Os russos também transferir­am recursos para um americano contratado para construir uma jaula grande o bastante para abrigar uma atriz travestida de Hillary.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil