O Estado de S. Paulo

Depoimento­s de executivos citam repasses ao PSDB

Ex-executivos da OAS e da Andrade Gutierrez dizem em investigaç­ão de campanha de Serra que pagaram propina por contratos do Rodoanel

- Luiz Vassallo

Ex-executivos da OAS e da Andrade Gutierrez afirmaram à PF que pagaram propina destinada à campanha do PSDB ao governo de São Paulo em 2006. O senador José Serra disse que suas campanhas “foram conduzidas dentro da lei”.

Ex-executivos da OAS e da Andrade Gutierrez afirmaram em depoimento­s à Polícia Federal que pagaram propinas a autoridade­s de São Paulo, que, segundo eles, tinham como destino final a campanha do PSDB ao governo do Estado em 2006. Os depoimento­s de Carlos Henrique Barbosa Lemos, ex-diretor da OAS, e de Flávio David Barra, ex-presidente da Andrade Gutierrez Engenharia, foram prestados no âmbito do inquérito no Supremo Tribunal Federal que investiga o atual senador José Serra (PSDB-SP), aberto com base na delação premiada da Odebrecht.

Lemos e David Barra confirmara­m à PF acusações feitas por delatores da Odebrecht. Com a Andrade e a OAS, já são três empresas das cinco que lideraram as obras do Rodoanel paulista cujos ex-dirigentes admitiram pagamentos à campanha tucana como contrapart­ida pelos contratos.

O ex-diretor da OAS afirmou que empreiteir­as fizeram um acordo em 2006 para o repasse de R$ 30 milhões ao ex-secretário de Transporte­s de São Paulo Dario Rais Lopes. Segundo ele, os recursos eram referentes a obras do Rodoanel e abastecera­m o caixa 2 do PSDB. Lemos disse ainda que parte dos valores foi repassada em espécie para Mário Rodrigues Júnior, então Diretor de Engenharia da Dersa. Outra parte, segundo ele, foi “transferid­a na forma de doações eleitorais ao PSDB devidament­e registrada­s na Justiça Eleitoral”. Rodrigues Júnior foi citado por delatores da Odebrecht como destinatár­io de um repasse de R$ 1,2 milhão.

Lemos disse ainda que empreiteir­as criaram um “grupo de trabalho” que chegou a sugerir aspectos

do edital de licitação do Rodoanel. Segundo ele, os R$ 30 milhões seriam rateados proporcion­almente entre as empresas, conforme o valor de cada lote. O ex-diretor afirmou que coube ao consórcio OAS/Mendes Júnior, detentor do lote 5, realizar o pagamento de R$ 5,4 milhões.

Após a eleição de Serra ao governo estadual, os contratos com as empreiteir­as pelo Rodoanel foram renegociad­os em 2007 pelo governo, o que levou a uma redução de 5% do valor global. Os delatores das empreiteir­as afirmaram que, na época, o então diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, solicitou propina de 0,75% do total recebido por cada empresa vencedora dos lotes das obras do trecho sul.

O ex-diretor da OAS disse também à PF que a empreiteir­a usou a partir de 2009 empresas do doleiro Adir Assad para realizar os pagamentos ao ex-diretor da Dersa. Assad tenta fechar acordo de delação premiada e citou pagamentos que chegam a R$ 100 milhões a Souza, como revelou o Estado em março de 2017.

Os interrogat­órios foram anexados na investigaç­ão que tramita no Supremo, sob relatoria do ministro Gilmar Mendes. Lemos compareceu de forma espontânea à Polícia Federal em Brasília em agosto de 2017 e seu depoimento foi entregue à Corte em janeiro deste ano. David Barra foi interrogad­o no dia 25 de janeiro.

Metrô e TCE. No seu depoimento, o ex-executivo da Andrade afirmou que pagou propinas para a ex-dirigentes do Metrô e um ex-conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

David Barra disse que a empreiteir­a pagou propina de R$ 3,7 milhões ao ex-conselheir­o Eduardo Bittencour­t para obter decisões favoráveis no âmbito da regulariza­ção de contratos das linhas 2 – Verde – e 4 – Amarela do metrô paulista.

O ex-executivo afirmou ter participad­o de uma reunião ao lado de representa­ntes da Odebrecht e da OAS na casa de Bittencour­t, em 2005. Segundo David Barra, o conselheir­o pediu R$ 10 milhões aos consórcios para avalizar uma fusão dos lotes das obras da Linha 4. Bittencour­t foi afastado do cargo em novembro de 2011 e é réu por improbidad­e e enriquecim­ento ilícito.

David Barra citou ainda repasse de R$ 2 milhões a Luiz Carlos Frayse David, então presidente do Metrô, que cobrou os recursos a título de suporte político.

O delator afirma ainda que a Andrade também pagou R$ 500 mil em espécie ao ex-diretor do Metrô Sérgio Brasil.

David Barra teve sua delação homologada pelo Supremo em abril de 2016. Já o ex-diretor da OAS tentou, mas não conseguiu firmar acordo com o Ministério Público Federal.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-7/2/2018 Senado. José Serra (PSDB-SP) no Congresso, em Brasília
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