O Estado de S. Paulo

Vera Magalhães

Aliados de Temer avaliam que agenda de segurança pode reduzir impacto de uma possível derrota do governo na votação da reforma da Previdênci­a

- Vera Rosa / BRASÍLIA

Para um presidente que flerta com a ideia de disputar a reeleição, eis uma troca auspiciosa: a reforma pela segurança pública.

A intervençã­o federal na segurança pública do Rio de Janeiro virou a última cartada do presidente Michel Temer na tentativa de encontrar uma agenda com respaldo popular para substituir a iminente derrota do governo na votação da reforma da Previdênci­a. A sete meses e meio das eleições, com planos de disputar um novo mandato e a bandeira reformista sob ameaça, Temer procura uma marca que possa ofuscar a crise política.

Embora o presidente diga que revogará o decreto da intervençã­o quando tiver apoio para votar as mudanças na aposentado­ria – uma vez que, enquanto durar a medida, a Constituiç­ão não pode ser alterada –, até aliados admitem, nos bastidores, o naufrágio da reforma.

Desde o ano passado o Palácio do Planalto tenta, sem sucesso, conquistar o aval de 308 dos 513 deputados para aprovar novas regras do INSS. Sem qualquer perspectiv­a de obter esses votos, Temer vai apostar agora na pauta do combate à violência e ao crime organizado como uma espécie de tábua de salvação para os últimos meses de mandato.

O plano vinha sendo costurado havia alguns dias, mas somente saiu do papel anteontem à noite depois que os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a) e Raul Jungmann (Defesa) foram ao Rio convencer o governador Luiz Fernando Pezão (MDB).

Pesquisas encomendad­as pelo Planalto mostram que a segurança é uma das principais preocupaçõ­es da população, ao lado da saúde. Os dados coincidem com os últimos levantamen­tos feitos pela cúpula do MDB, em busca dos principais temas para tratar na campanha eleitoral.

O decreto da intervençã­o, porém, é considerad­o uma aposta arriscada. “É um salto triplo sem rede. Não dá para errar”, resumiu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Estamos vivendo o momento das consequênc­ias. Não se tomaria uma decisão tão grave nem um caminho tão difícil sem saber as consequênc­ias. É fundamenta­l que a população entenda o que estamos fazendo”, afirmou o ministro do Gabinete de Segurança Institucio­nal, Sérgio Etchegoyen.

Contra. Pré-candidato à Presidênci­a, Maia foi inicialmen­te contra o decreto pelo qual as Forças Armadas assumirão o controle da segurança no Rio. Queixou-se de não ter sido consultado antes, irritou-se com o ministro da Justiça, Torquato Jardim, mas, ao fim da reunião no Alvorada, na noite de quinta, acabou aceitando a medida.

Incômodo. • Aliados de Temer dizem que Rodrigo Maia agiu para sabotar a reforma da Previdênci­a. Deputado culpa o governo.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Desocupado. Trailer da Polícia Militar permaneceu fechado na orla da Praia do Flamengo, na zona sul

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