O Estado de S. Paulo

A maior aposta de Temer

- E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Duma bandeira forte. Se é uma metástase, se ameaça o País e seus cidadãos, por que não um presidente de taxa de aprovação quase nenhuma não ver nela a sua oportunida­de? Essa é a grande aposta de Temer para tentar também entrar no jogo político e, se tudo der certo, apresentar-se para sua própria sucessão.

Temer convive hoje com uma ideia fixa, que é a de tentar provar ao Brasil que não se envolveu em irregulari­dades, mesmo que o teor da conversa dele com o empresário Joesley Batista deixe tanta gente com a pulga atrás da orelha. O presidente acha que, assim como reduziu os juros e a inflação a taxas muito baixas, e tomou medidas que fizeram com que a economia começasse a entrar novamente nos trilhos, se conseguir reduzir a criminalid­ade no Rio, terá o que mostrar ao eleitor.

Paralelame­nte, ele acredita que poderá começar a defender sua honra, posta sub suspeita desde que foi divulgado o teor da conversa dele com o empresário Joesley Batista, e que um de seus principais assessores, o ex-deputado Rocha Loures (MDB-PR), foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil.

Temer começou também a desconfiar de que nenhum dos três candidatos do centro político que já se apresentar­am até agora – Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Rodrigo Maia – estão dispostos a fazer a defesa de sua honra nem a do legado do governo. Nesse caso, tem dito a ministros mais próximos, é hora de ele mesmo começar a trabalhar a seu favor.

O que dá a Temer a esperança de que possa conquistar alguns pontinhos na baixa popularida­de com a intervençã­o na segurança do Rio de Janeiro é o fato de que o general Braga Netto responderá diretament­e a ele, sem precisar passar pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas. Portanto, o que for feito de positivo para a segurança dos fluminense­s, será computado para Temer.

Some-se a isso a certeza hoje existente na cabeça de Temer de que sem a presença de Lula na disputa há um espaço enorme a ser ocupado. E que se há algo que atrai o eleitor em relação ao deputado Jair Bolsonaro é o fato de ele ter incorporad­o o discurso em relação à segurança pública.

Se conseguir dar um jeito na questão da inseguranç­a do Rio, Temer sairá ganhando. Se não conseguir, não perderá nada. Só que ele não admite que existem riscos de que não vai conseguir.

O jogo político é esse. Mas existem algumas consequênc­ias que podem surgir do decreto de intervençã­o que devem ser motivo de preocupaçã­o. Uma delas já foi manifestad­a pelo general Villas Boas um tempo atrás: os governador­es podem se acomodar e empurrar a política de segurança pública para o governo federal. Se as coisas derem errado, podem dizer que o culpado é o presidente da República, não eles. Muitos Estados encontram-se numa situação semelhante à do Rio, com salários atrasados, gastos públicos nas alturas e perda do controle da segurança. Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul estão nesse caminho. O Rio poderá servir de laboratóri­o para futuras ações em outros Estados.

Nesse caminho, em pouco tempo boa parte do Brasil pode estar sob intervençã­o. Isso não é bom para a democracia nem para os dirigentes do País.

Combater metástases como a do Rio pode se tornar uma bandeira política forte

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