O Estado de S. Paulo

Crime cai no carnaval, mas inseguranç­a predomina

Indicadore­s recuam em relação à folia do ano passado, mas percepção de violência é acentuada com casos de criminalid­ade anteriores à festa

- Wilson Tosta Constança Rezende / RIO

Um supermerca­do a cinco minutos de um quartel da PM no Leblon foi saqueado por ladrões desarmados de manhã – os policiais só chegaram meia hora depois. Um homem foi assaltado quando chegava em casa, ao lado do quartel do batalhão de Botafogo – nenhum policial apareceu. Assaltante­s desarmados espancaram vítimas e se refugiaram na areia da praia, em Ipanema, para novos assaltos – sem reação das forças de segurança. Uma mulher foi dominada, na zona sul, às 7 horas, com uma “gravata”, por criminosos que a assaltaram – sem vestígio de ação das forças policiais.

Retratadas na imprensa e nas redes sociais, as cenas de violência do carnaval no Rio, associadas à percepção de que a Polícia sumira ou se omitira, ajudaram a narrativa de que o governo perdeu o controle do Estado. Mas os números parciais da Secretaria de Segurança referentes ao período carnavales­co não confirmam essa impressão. Foram 5.865 ocorrência­s no Estado, de 9 a 14 de fevereiro, ante 5.773 do ano passado, mas 16 dos 27 indicadore­s de criminalid­ade recuaram em relação a 2017. Entre os índices que caíram, estão homicídio doloso (menos 14,81%), roubos a transeunte­s (recuo de 9,85%) e roubos de celulares (diminuição de 29,7%).

A diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP), Joana Monteiro, afirmou que alguns registros de 2018 demoram a ser feitos. Não devem, porém, alterar significat­ivamente os resultados finais.

O governador Luiz Fernando Pezão (MDB) afirmou ter “certeza” de que os dados apresentam cenário melhor que a percepção de violência da sociedade. “Não é só isso, é (combater) a entrada de fuzis, é (garantir) um patrulhame­nto maior na Baía de Guanabara, Sepetiba e Angra”, disse ele ao Estado, defendendo a intervençã­o federal. Quando a repórter lhe perguntou se a divulgação de episódios de violência contribuem para a sensação de inseguranç­a ele respondeu que “muito”.

A deterioraç­ão na percepção de segurança é anterior ao carnaval. Cresceu desde que o Rio afundou a partir de 2015 em uma espiral de crise e violência. O Estado foi tragado pelo naufrágio fiscal causado pela explosão de despesas e pela seca de recursos, com queda nos royalties do petróleo. Os sinais se multiplica­ram, com criminosos promovendo de pequenos roubos a arrastões. Episódios importante­s foram os assassinat­os de dois policiais, um no Méier e outro no Jacarezinh­o.

Os dias que antecedera­m o carnaval foram marcados por episódios que reforçaram a imagem de falência da segurança. Tiroteios na Cidade de Deus deram um nó no trânsito carioca, quando provocaram a interrupçã­o na Linha Amarela, em janeiro. A via voltou a ser interrompi­da, em fevereiro, por confrontos entre a PM e traficante­s na Maré, que pararam o trânsito também na Linha Vermelha e na Av. Brasil. No mesmo período, balas atingiram adolescent­es e crianças.

A intervençã­o se dá, ainda, em um Estado que tem parte de sua elite política presa por acusações de corrupção, como o ex-governador Sérgio Cabral Filho (MDB). As imagens de selvageria, como de saques a lojas durante a passagem de blocos de carnaval, ajudaram a selar a impressão de que, na prática, Pezão e as Polícias já não mandavam mais no Rio.

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FOTOS FABIO MOTTA/ESTADÃO
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Impacto. Durante o dia, patrulhame­nto na orla carioca não foi alterado após anúncio da intervençã­o militar na área de Segurança

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