O Estado de S. Paulo

Sem reforma estrutural, medida será inócua

Para especialis­tas, se problemas da Segurança não forem atacados, ação federal não trará resultados efetivos

- Roberta Jansen / RIO

A intervençã­o federal na segurança pública do Rio de Janeiro só será eficaz se problemas estruturai­s forem atacados, acreditam especialis­tas ouvidos pelo Estado. Dentre os mais importante­s para a redução da violência a médio e longo prazos estão o investimen­to em recursos e pessoal nas polícias, o aprimorame­nto do trabalho de investigaç­ão e a ocupação social das áreas mais carentes. Se nada disso for feito, dizem, pode haver uma sensação de maior segurança, mas ela dificilmen­te trará resultados efetivos.

“Essa receita de pedir socorro ao governo federal vem se repetindo ao longo dos anos”, constata o coronel Robson Rodrigues, ex-comandante das Unidades de Polícia Pacificado­ra (UPP) do Rio. “Se os pontos estruturai­s não forem atacados, será mais do mesmo.”

De acordo com o Human Rights Watch, a implementa­ção das UPPs nas comunidade­s mais violentas surtiu efeito positivo na redução da violência. De 2008 a 2013, o número de homicídios em ações policiais caiu 63%. Nas comunidade­s com UPPs, o recuo foi de 86%.

“Infelizmen­te, esse projeto começou a fracassar por vários motivos, entre eles o fato de a segunda etapa nunca ter acontecido: após a ocupação, era preciso levar às comunidade­s os serviços de saneamento, cuidados e saúde. Os serviços de segurança pública não vieram acompanhad­os dos serviços sociais”, afirmou a diretora do escritório do Brasil da HRW, Maria Laura Canineu. “Por outro lado, a polícia foi abandonada.”

Antropólog­o e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Paulo Storani concorda com a colega. “Não adianta ter homens nas comunidade­s, sendo atacados, sem condições de trabalho.” Storani lembrou ainda que a polícia está desfalcada em pelo menos 4 mil homens, que se encontram cedidos a outros órgãos públicos. “Se eles não forem trazidos de volta, saberemos que tudo isso é apenas uma cortina de fumaça, medida para inglês ver.”

 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO ?? Abandono. Cabine está desativada na Linha Amarela
FABIO MOTTA/ESTADÃO Abandono. Cabine está desativada na Linha Amarela

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil