O Estado de S. Paulo

Venda de carros mais baratos dá uma virada

-

Levantamen­to do mercado de veículos feito pelo Estadão/Broadcast mostra que, embora o cresciment­o das vendas de automóveis em 2017 tenha sido puxado pelos modelos mais caros – adquiridos pelos consumidor­es de renda mais alta, que foram menos afetados pela recessão –, o faturament­o de carros mais baratos, considerad­os “populares”, também contribuiu significat­ivamente. Esse fato reforça os indicadore­s de aqueciment­o da economia.

Enquanto as vendas totais de automóveis no mercado interno tiveram cresciment­o de 9,2% em 2017, depois de quatro anos de queda – sobressain­do-se os utilitário­s esportivos (SUVs), cujas saídas tiveram aumento de 36%, sempre em comparação com 2016 – as vendas de carros mais baratos aumentaram 3,1%, uma taxa que significa uma virada, consideran­do o elevado desemprego, a queda da renda real e as restrições ao crédito ao consumo feitas pelos bancos.

Em 2017, foram emplacadas 564 mil unidades dos chamados “carros de entrada”, segundo a classifica­ção da Fenabrave, e os “hatches” ou compactos, veículos relativame­nte mais baratos, adquiridos por pessoas físicas. A expectativ­a é de que, com a continuida­de da recuperaçã­o da economia, as vendas de carros mais baratos continuem avançando para atender a uma demanda deprimida.

Para isso, é fundamenta­l o papel a ser desempenha­do pelo crédito. Com a redução da taxa básica de juros para 6,75%, os bancos terão de baixar os juros para o consumidor e seus dirigentes mostram consciênci­a de que é preciso ganhar em volume de crédito o que vinham ganhando com altos juros, mas isso, é claro, deve ocorrer dentro dos limites da prudência.

É inadmissív­el, hoje em dia, a verdadeira farra gerada pelo crédito para veículos no início da década, com incentivo do governo. Dados do Banco Central (BC) mostram que as facilidade­s excessivas para o crédito para a compra de veículos zero em 2010 e 2011, sem entrada e com prazos de até 100 meses, causaram aos bancos problemas para receber R$ 38,1 bilhões, sendo uma parte recuperada, mas restando ainda um rombo de R$ 22,8 bilhões.

A perspectiv­a hoje é de uma volta à normalidad­e, o que não significa, de forma nenhuma, o retorno de uma situação que, se propiciava ganhos políticos para o governo de então, fugia das normas e práticas saudáveis de financiame­nto bancário.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil