O Estado de S. Paulo

Projeto sai da pauta do Congresso

Apesar de a intervençã­o no Rio impedir votação e da falta de apoio, governo diz, oficialmen­te, que proposta não foi abandonada

- BRASÍLIA Para economista, quadro ruim tende a se agravar. Pág. B5 / ADRIANA FERNANDES, CARLA ARAÚJO, DAIENE CARDOSO, EDUARDO RODRIGUES e ISADORA PERON

Embora o discurso oficial do governo mantenha na agenda econômica a reforma da Previdênci­a, a proposta que muda as regras da aposentado­ria saiu da pauta do Legislativ­o no momento em que foi protocolad­o, na Câmara dos Deputados, o decreto de intervençã­o federal no Rio de Janeiro. A Constituiç­ão proíbe a tramitação de emenda constituci­onal, que é o caso do texto da reforma previdenci­ária, enquanto a intervençã­o estiver em vigor.

Reservadam­ente, integrante­s do governo, tanto na área política quanto econômica, admitem que a reforma não vai se concretiza­r este ano porque o “ambiente político mudou”. Na prática, a intervençã­o no Rio sepultou o projeto, que já não contava com o apoio necessário do Congresso.

Oficialmen­te, no entanto, o Palácio do Planalto e a área econômica continuam insistindo no cronograma de votação. A orientação é manter as reuniões que estavam marcadas para a próxima semana. Uma reunião de governador­es está prevista para segunda-feira. O próprio governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, integra a lista de participan­tes. “Defendo fortemente a reforma da Previdênci­a, que é o grande problema do déficit dos Estados”, disse Pezão.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, não houve consenso no governo em relação ao momento do anúncio da intervençã­o. Integrante­s da área econômica preferiam esperar o prazo final dado para a votação (28 de fevereiro) antes que a medida fosse decretada.

A opção encontrada pelo governo foi anunciar a intervençã­o, mas deixar claro que a medida poderia ser suspensa para que a votação da reforma ocorresse na Câmara como estava previsto inicialmen­te. Essa proposta, no entanto, é controvers­a do ponto de vista jurídico (ler mais abaixo).

“Quando a reforma da Previdênci­a estiver para ser votada, segundo a avaliação do Legislativ­o, farei cessar a intervençã­o”, afirmou ontem o presidente Michel Temer, durante o anúncio da ação federal no Rio. A ideia, segundo explicou, seria dar uma “pausa” na intervençã­o para votar a Proposta de Emenda Constituci­onal, algo intensamen­te criticado por juristas.

Temer não citou a dificuldad­e de angariar votos favoráveis à proposta. Mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já havia indicado que pautaria a votação da reforma apenas quando houvesse quórum acima do mínimo necessário para aprovação, de 308 votos.

O próprio governo admite que não tem o apoio de três quintos dos parlamenta­res, como exige a lei para referendar uma medida que muda a Constituiç­ão. Nesta semana, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou que continuava­m faltando 40 votos para atingir o apoio mínimo. Rodrigo Maia, responsáve­l pela elaboração da pauta da Câmara, reconheceu a dificuldad­e de colocar em votação a Previdênci­a nas próximas semanas. “Se votar o decreto da intervençã­o dia 21, vai ser difícil votar a Previdênci­a até o dia 28. Não dá para num dia votar o decreto e no outro dia suspender”, afirmou, sinalizand­o que vai se opor a essa alternativ­a.

Na avaliação de fontes do governo, Maia, que ficou irritado por não ter participad­o da decisão de intervençã­o, tem prejudicad­o as negociaçõe­s da reforma com declaraçõe­s considerad­as dúbias em relação à proposta.

E, de acordo com membros do governo, o dia 28 permanece como data-limite para o projeto de mudança das regras previdenci­árias. Depois disso, a janela se fecha. “Fica muito, muito difícil”, admitiu um integrante da área econômica.

Para o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), a intervençã­o é uma “saída honrosa”, pois a base não tem o número necessário de votos para aprovar a reforma da Previdênci­a. “A situação de inseguranç­a já é gravíssima há muito tempo. Por que só agora o governo decidiu tomar essa atitude?”, questionou.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Alternativ­a. Maia (E) indicou ser contra a opção aventada por Temer de suspender intervençã­o para votar a reforma
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NA WEB Cenário. Como fica a reforma da Previdênci­a? estadao.com.br/e/intervenca­o

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