A potência da sátira e da crítica
Com o mesmo nome da revista carioca fundada em 1907, o espetáculo prova seu compromisso com a história nacional
A sátira, tão presente na revista Fon-Fon, alimenta a obra homônima de Décio Otero. A partir dela, o novo trabalho do Ballet Stagium traz uma reflexão que reúne leveza e deboche. Vale recorrer à expressão latina Ridendo Castigat Moris (rindo se castigam os costumes) para lembrar a potência da sátira em criticar os costumes de uma época.
O compromisso didático com as informações históricas através da técnica do balé, uma tradição que o Stagium consolidou, se mantém. As referências pitorescas que aparecem na trilha sonora e nos figurinos vão remontando a um Brasil do início do século 20, que vai costurando a crítica necessária para chegar a Ó Abre Alas, em que todos os bailarinos andam em direção ao público, segurando uma bandeira do Brasil preta, com colagens de jornais.
Fon Fon! escolhe a leveza que a liberdade traz em um momento povoado pela agressividade dos “haters” nas redes digitais. Uma crítica materializada no movimento que impulsiona a sua criação, e transforma a escassez de recursos em parte da dramaturgia do espetáculo, questionando a relação entre consumo e necessidade.
Assim como as referências históricas oxigenam o presente, em Fon Fon!, o elenco comprometido está mesclado ao olhar experiente de Marika e Décio, que insistem em fazer do Stagium uma escola de formação para seus bailarinos e também para o público, que continua, com eles, a ver a história da dança e do Brasil acontecer, ao vivo, no palco.