Resgate musical
Inspirado em Chiquinha Gonzaga e com referências do início do século 20, Ballet Stagium apresenta ‘Fon Fon!’
Décio Otero e Marika Gidali são daquelas figuras que parecem existir desde sempre. As notícias de um Stagium que faz do trabalho o seu lema rasga a história da dança no Brasil, e 2018 não começa diferente. Foi na quadra da escola de samba Império da Casa Verde, ambiente bem conhecido da cia., que o Stagium fez a pré-estreia de Fon Fon!, que chega ao palco do Sesc Santana neste sábado, 17.
A nova coreografia de Décio é inspirada em Chiquinha Gonzaga e referências do início do século 20, como a revista que empresta o nome ao trabalho, FonFon (1907-1945). O impulso de criação foi o chargista e ilustrador José Carlos de Brito e Cunha, o J. Carlos (1884-1950). “Décio vem resgatando Chiquinha Gonzaga, que foi revolucionária em sua época. A gente colocou músicas do começo do século e muitas coisas dela”, conta Marika, que enfatiza que o mote do trabalho é a liberdade. “É o motivo de a gente fazer o balé. A gente quer passar por essa loucura que estamos vivendo. De algum jeito, precisamos sobreviver. Então, a gente canta Ó Abre Alas (marchinha de carnaval composta por Chiquinha Gonzaga, em 1899), não porque a gente quer passar, mas porque a gente tem que passar. Se a gente não passar, o que fica?”
Fon Fon! é um trabalho que não contou com financiamento. A produção foi realizada com recursos próprios. “O Fomento vai ajudar a manter a companhia, mas Fon Fon! não está no projeto de Fomento”, afirma Marika. Ela anuncia que em março e abril, através do Programa de Fomento, o Stagium remontará 5 espetáculos: Canto da Minha Terra (2015), Mané Gostoso (2007), Choros (1981), Batucada (1980), Kuarup: Ou a Questão do Índio (1977), em 20 apresentações.
O cenário, desenhado e confeccionado por Fabio Villardi, na cia. desde 1977, é uma produção artesanal construída com papelão e materiais de baixo custo, tanto por conta da falta de verba quanto pela aproximação com as referências de cartum da revista, assinadas por J. Carlos, como conta Marika. “Para quem vai assistir, será como folhear a revista Fon-Fon, no começo do século.” Os figurinos são de Márcio Tadeu, em um trabalho conjunto. “Eu (Marika), Décio, Márcio e Fábio trabalhamos muito juntos. É uma miscelânea de coisas da época e atuais, tanto na roupa quanto nos elementos cênicos.”
Quando pensa sobre o futuro, Marika sabe que, como em qualquer coreografia, é só no desenrolar dos passos que acontece a continuidade: “Não sei onde isso vai nos levar, porque é um processo e cada trabalho joga a gente num outro. Sei lá qual é o futuro depois disso”, e segue enfatizando o significado de Fon Fon! na trajetória da cia. “Todo mundo vibra na realização, porque tudo o que se faz nesse balé tem a ver com a gente.”
FON FON!
Sesc Santana. Av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. 2971-8700. Sáb. (17), às 21h, e dom. (18), às 18h. R$ 6 a R$ 20.