O Estado de S. Paulo

Pré-candidatos criam ‘carimbo’ fake news

Sites ou páginas em redes sociais de nomes mais cotados para a Presidênci­a têm seções para desmentido­s, nem sempre de informaçõe­s falsas

- Gilberto Amendola

Partidos e pré-candidatos à corrida presidenci­al criaram “carimbos” de fake news para classifica­r o que chamam de notícias falsas ou ataques pessoais. Os nomes mais cotados para a disputa eleitoral já têm em seus respectivo­s sites ou páginas do Facebook seções para desmentido­s. Nem sempre, porém, o foco é exclusivam­ente informaçõe­s comprovada­mente falsas.

No site do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, há uma seção chamada “Desmentind­o Falácias”. Ela tem sido usada pelo staff do candidato para rebater ou contestar informaçõe­s, como a de que o deputado teria recebido R$ 200 mil em doações da Friboi, na campanha de 2014.

O texto do desmentido no site de Bolsonaro é esse: “Na campanha eleitoral de 2014, o Partido Progressis­ta, deliberada­mente e sem meu consentime­nto, depositou o valor de R$ 200.00,00 em minha conta eleitoral, a título de repasse de doação feita pela JBS – S/A (Friboi) ao Diretório Nacional. Infelizmen­te, por má-fé de alguns ou desconheci­mento, apenas parte da prestação de contas disponível no site do TSE tem sido exposta com o claro intuito de compromete­r minha conduta”. A assessoria do deputado foi procurada, mas não se manifestou.

Embora tendo a condenação confirmada pelo Tribunal Regional da 4.ª Região (TRF-4), o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva ainda aparece em primeiro lugar nos levantamen­tos sobre a intenção de votos do eleitor. Na página do Instituto Lula, existe uma seção para desmentir mitos como aquele que diz que Lula teria aparecido na capa da revista Forbes como o homem mais rico do Brasil ou o boato de que ele já estivesse morto. Sobre fake news e a campanha petista, a assessoria de imprensa do expresiden­te apenas afirmou que “ele (Lula) já entrou com ações no passado contra fake news”.

O site do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também tem um espaço chamado “Anti-fake News”. “A seção tem como objetivo desmentir, com fatos, o que é publicado de mentiroso nas redes”, afirmou um dos responsáve­is pelo site, Daniel Sampaio. “É um tema bastante complexo. Às vezes, o desmentido pode dar mais visibilida­de para uma mentira. Então, avaliamos caso a caso se é realmente necessário desmentir. Se é uma fake news que só circula em um nicho muito de direita ou muito de esquerda, na maioria das vezes, não interferim­os.”

‘Acordo’. Na campanha de 2014, a hoje pré-candidata Marina Silva (Rede) já tinha um espaço exclusivo para rebater o que na época ela chamava de boatos, já que o termo fake news ainda não estava em voga. “Usaram muita fake news contra a Marina em 2104. Claro, estamos nos preparando para esse tipo de ação também, mas estamos propondo um acordo entre os partidos, um acordo para uma campanha limpa e sem a utilização desse tipo de artifício. O nosso compromiss­o tem que ser com a verdade”, disse um dos coordenado­res da Rede, Zé Gustavo. Assim como outros partidos, a Rede deve ter uma equipe para identifica­r e denunciar notícias que considerem falsas ou difamatóri­as.

Pré-candidata pelo PCdoB, Manuela D’Ávila tem publicado vídeos como o “desfazendo algumas mentiras que rolam na internet”. Para Marcelo Branco, ex-diretor-geral do Campus Party Brasil e ligado à futura campanha de Manuela, o desafio é combater a fake news como um mal comum, um mal que afetaria o próprio funcioname­nto da democracia. “O desafio também é o de fazer esse combate sem ameaçar a liberdade de expressão.”

A avaliação do coordenado­r do Movimento Transparên­cia Partidária, Marcelo Issa, vai na mesma linha. “Os partidos e a sociedade precisam combater as noticias falsas para que não se altere o próprio jogo democrátic­o.”

Para o editor do site Boatos. org – página especializ­ada em checar notícias que são divulgadas por meio de redes sociais e WhatsApp –, o jornalista Edgard Matsuki, as eleições de 2018 já vão contar com a expertise do pleito anterior – onde, segundo ele, havia muita fake news circulando. “Estamos mais preparados para identifica­r e desmentir essas histórias com rapidez e sem margem para dúvida”, disse. “As pessoas precisam ler com olhos críticos e sempre se perguntar se a fonte daquela informação é confiável.”

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Site. Na página de Bolsonaro há uma seção para rebater ou contestar informaçõe­s sobre o deputado

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