Facebook foi usado pela Rússia para influenciar eleitores
Rede social e seu app de fotos Instagram foram as principais ferramentas usadas para interferir nas eleições de 2016
Em 2014, russos trabalhando para uma obscura firma chamada Internet Research Agency começaram a reunir seguidores online americanos para discutir temas como religião e imigração. Em 2015, eles passaram a espalhar mensagens por meio de anúncios digitais. Um ano depois, convocaram os seguidores para ajudar a organizar manifestações políticas nos EUA.
O instrumento digital escolhido para essas operações foi o Facebook e seu aplicativo de compartilhamento de fotos, Instagram. A rede social foi a ferramenta tecnológica mais citada pelo Departamento de Justiça na acusação contra 13 russos e 3 empresas, divulgada na sexta-feira, de operarem um esquema para influenciar na eleição de 2016 em favor de Donald Trump.
No indiciamento, promotores detalharam como os russos recorreram ao Facebook e ao Instagram para semear discórdia no eleitorado – criando grupos de apoio no Facebook, divulgando anúncios destinados a dividir os eleitores e postando imagens inflamatórias.
Embora no documento o Facebook não seja acusado de nenhum delito, a peça proporciona o primeiro quadro abrangente de como as plataformas da empresa tiveram papel crucial na campanha russa para abalar a eleição. Facebook e Instagram são mencionados 41 vezes, enquanto outras empresas usadas pelos russos aparecem menos: o Twitter é citado 9 vezes, o YouTube, uma vez, e a empresa de pagamentos PayPal, 11 vezes.
Jonathan Albright, diretor do Tow Center de Jornalismo Digital da Universidade Columbia, disse que o indiciamento revela com que grau de eficácia o Facebook pode ser usado contra o país. “O Facebook criou ferramentas incrivelmente eficientes que permitiram à Rússia descobrir como nos manipular”, afirmou Albright. Ele acrescentou que muitas das ferramentas usadas pelos russos, incluindo as que permitem acompanhar anúncios para avaliar seu alcance, continuam disponíveis.
O Facebook, com mais de 2 bilhões de membros, há muito vem se defrontando com o que seus usuários mostram, em especial em relação a conteúdos ilícitos. Os negócios da empresa dependem do alto engajamento das pessoas com o que é postado, o que por sua vez ajuda a tornar as páginas atraentes para anunciantes.
Após a eleição de 2016, quando surgiram as primeiras insinuações de que o Facebook teria influenciado nos resultados, Mark Zuckerberg, presidente da empresa, minimizou o caso. Em setembro, porém, ele admitiu que a Internet Research Agency havia comprado anúncios para causar controvérsia sobre temas sensíveis. Mais tarde, informou que 150 milhões de americanos haviam visto a propaganda russa.
A rede social contratou milhares de pessoas para ajudar a monitorar conteúdo e também vem trabalhando com Robert Mueller, que chefia as investigações sobre a interferência russa na eleição. O Facebook também mudou sua política de captação de anúncios. Agora, qualquer menção a um candidato é submetida a um processo mais rigoroso. Zuckerberg prometeu que não permitirá que pessoas mal-intencionadas se aproveitem do Facebook.
As várias menções ao site no indiciamento, porém, trazem à tona perguntas sobre por que a maior empresa de mídia social do mundo não detectou mais cedo a atividade russa e por que não fez mais para interrompêla. Também não ficou claro quão eficazes serão os novos esforços da empresa para reduzir a manipulação.