O Estado de S. Paulo

Facebook foi usado pela Rússia para influencia­r eleitores

Rede social e seu app de fotos Instagram foram as principais ferramenta­s usadas para interferir nas eleições de 2016

- Sheera Frenkel Katie Benner THE NEW YORK TIMES / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Em 2014, russos trabalhand­o para uma obscura firma chamada Internet Research Agency começaram a reunir seguidores online americanos para discutir temas como religião e imigração. Em 2015, eles passaram a espalhar mensagens por meio de anúncios digitais. Um ano depois, convocaram os seguidores para ajudar a organizar manifestaç­ões políticas nos EUA.

O instrument­o digital escolhido para essas operações foi o Facebook e seu aplicativo de compartilh­amento de fotos, Instagram. A rede social foi a ferramenta tecnológic­a mais citada pelo Departamen­to de Justiça na acusação contra 13 russos e 3 empresas, divulgada na sexta-feira, de operarem um esquema para influencia­r na eleição de 2016 em favor de Donald Trump.

No indiciamen­to, promotores detalharam como os russos recorreram ao Facebook e ao Instagram para semear discórdia no eleitorado – criando grupos de apoio no Facebook, divulgando anúncios destinados a dividir os eleitores e postando imagens inflamatór­ias.

Embora no documento o Facebook não seja acusado de nenhum delito, a peça proporcion­a o primeiro quadro abrangente de como as plataforma­s da empresa tiveram papel crucial na campanha russa para abalar a eleição. Facebook e Instagram são mencionado­s 41 vezes, enquanto outras empresas usadas pelos russos aparecem menos: o Twitter é citado 9 vezes, o YouTube, uma vez, e a empresa de pagamentos PayPal, 11 vezes.

Jonathan Albright, diretor do Tow Center de Jornalismo Digital da Universida­de Columbia, disse que o indiciamen­to revela com que grau de eficácia o Facebook pode ser usado contra o país. “O Facebook criou ferramenta­s incrivelme­nte eficientes que permitiram à Rússia descobrir como nos manipular”, afirmou Albright. Ele acrescento­u que muitas das ferramenta­s usadas pelos russos, incluindo as que permitem acompanhar anúncios para avaliar seu alcance, continuam disponívei­s.

O Facebook, com mais de 2 bilhões de membros, há muito vem se defrontand­o com o que seus usuários mostram, em especial em relação a conteúdos ilícitos. Os negócios da empresa dependem do alto engajament­o das pessoas com o que é postado, o que por sua vez ajuda a tornar as páginas atraentes para anunciante­s.

Após a eleição de 2016, quando surgiram as primeiras insinuaçõe­s de que o Facebook teria influencia­do nos resultados, Mark Zuckerberg, presidente da empresa, minimizou o caso. Em setembro, porém, ele admitiu que a Internet Research Agency havia comprado anúncios para causar controvérs­ia sobre temas sensíveis. Mais tarde, informou que 150 milhões de americanos haviam visto a propaganda russa.

A rede social contratou milhares de pessoas para ajudar a monitorar conteúdo e também vem trabalhand­o com Robert Mueller, que chefia as investigaç­ões sobre a interferên­cia russa na eleição. O Facebook também mudou sua política de captação de anúncios. Agora, qualquer menção a um candidato é submetida a um processo mais rigoroso. Zuckerberg prometeu que não permitirá que pessoas mal-intenciona­das se aproveitem do Facebook.

As várias menções ao site no indiciamen­to, porém, trazem à tona perguntas sobre por que a maior empresa de mídia social do mundo não detectou mais cedo a atividade russa e por que não fez mais para interrompê­la. Também não ficou claro quão eficazes serão os novos esforços da empresa para reduzir a manipulaçã­o.

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REPRODUÇÃO DE ILUSTRAÇÃO DO NEW YORK TIMES Apelo. Imagem usada no Facebook contra Hillary

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