O Estado de S. Paulo

O fundo é bem mais embaixo

O resto do Brasil pode ser o Rio amanhã, as coisas não estão tranquilas em nenhum Estado. É olhar as estatístic­as para ver que a violência corre solta de norte a sul do País

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

As seguradora­s podem fazer muito pouco para mudar o quadro, se os fatos seguirem nesta toada

Élamentáve­l, mas não tem como não entrar no tema do desmonte do Estado do Rio de Janeiro, especialme­nte, quando o governo federal decreta a intervençã­o na segurança pública do Estado, nomeando um general para assumir o cargo de intervento­r.

Não sei qual será o resultado da ação, mas, no curto prazo, o máximo previsível é a bandidagem tirar um período sabático e esperar as tropas se retirarem. Afinal, a intervençã­o tem prazo previsto na Constituiç­ão, então, em algum momento acaba e aí é só descer para o abraço.

A crise no Rio de Janeiro é muito mais grave do que dar tiro ou não dar tiro, colocar tropas nas ruas ou não colocar tropas nas ruas. É um processo que vem se acentuando há mais de duas décadas, crescendo ano depois de ano em função do absoluto descaso das autoridade­s eleitas para o Estado e para o município em relação aos seus deveres de gestores da coisa pública.

O que se vê no Rio de Janeiro é a bandalheir­a correndo solta em todos os níveis de governo. A contrapart­ida é o desmonte sistemátic­o do Estado e de sua capacidade de atuação. É por isso que tropa subir o morro não vai resolver nada. Tanto faz se é a polícia ou as Forças Armadas, o problema não está na eficiência dos homens encarregad­os das missões de campo. O problema passa pela ausência de tudo que o Estado deveria fornecer ao cidadão e que foi apropriado pelo crime organizado como forma de manter a ordem e o funcioname­nto das comunidade­s onde operam.

Quem dá atendiment­o médico e apoio social, mantém a ordem impedindo crimes brutais dentro das comunidade­s, garante o fornecimen­to de água, luz, gás e outros serviços não é o Estado, nem seus agentes, é o crime organizado e seu pessoal.

Os presidente­s e mantenedor­es das escolas de samba não são amados por isso, são amados porque garantem o bem-estar mínimo da população da região. Além de oferecerem a escola de samba como bandeira da honra da comunidade.

O poder público não dá nada, exceto tiroteios que não resolvem a situação, mas apavoram os moradores e matam inocentes, vitimados pelas balas perdidas. É esta ausência do Estado que precisa ser repensada. Sem escola, saúde pública, assistênci­a social, enfim, tudo o que o Rio de Janeiro não oferece aos moradores das comunidade­s, não tem o que fazer, o exército entrar em ação não terá mais sentido do que secar gelo num dia de verão. Não vai dar em nada. Não vai resolver nada. O crime vai retomar as áreas de seu interesse e o tráfico de drogas continuará o dono do Rio.

O que isso tem a ver com seguros? Tudo. Violência, destruição, saques, desrespeit­o à ordem encarecem e afastam o seguro das comunidade­s que ele deveria proteger. O Rio, hoje, é campeão de todas as estatístic­as negativas que de uma forma ou de outra impactam a contrataçã­o de seguros.

O porcentual de policiais assassinad­os no Estado é muitas vezes mais alto do que o da média brasileira. A quantidade de vítimas de balas perdidas é muito mais alta do que a média brasileira. Os assassinat­os também estão acima da média nacional. Com muito menos caminhões trafegando, os roubos de carga no Rio de Janeiro já ultrapassa­ram os roubos de cargas em São Paulo. O roubo e furto de veículos estão em patamares insustentá­veis. E por aí vamos, numa fileira de números dramáticos que colocam o Rio de Janeiro numa situação vergonhosa em comparação com qualquer área conflagrad­a do mundo.

Onde a porca torce o rabo é que o resto do Brasil pode ser o Rio de Janeiro amanhã. As coisas não estão tranquilas em nenhum Estado da Federação. É dar uma olhada nas estatístic­as para ver que a violência corre solta de norte a sul do País, com repiques mais fortes no Rio Grande do Norte, Amazonas e Maranhão, onde brigas pelo controle dos presídios tomaram grandes proporções.

Isso não quer dizer que Estados mais desenvolvi­dos não estejam no fundo do poço. Estão, e a situação tende a se agravar com a criminalid­ade crescendo neles também.

As seguradora­s podem fazer muito pouco para mudar o quadro. Se os fatos seguirem assim, todo o cresciment­o previsto para os próximos anos pode ficar comprometi­do.

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