O Estado de S. Paulo

Do cresciment­o às dúvidas

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Apesar da reação, o investimen­to produtivo está baixo.

Crescem no mercado as apostas em cresciment­o econômico próximo de 3% neste ano, taxa prevista pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Em uma semana subiu de 2,70% para 2,80% a mediana das projeções de economista­s de instituiçõ­es financeira­s e consultori­as, de acordo com a pesquisa Focus do Banco Central (BC). A expectativ­a de maior expansão em 2018 vem sendo fortalecid­a por balanços animadores, embora incompleto­s, da evolução dos negócios nos meses finais do ano passado. O mais novo sinal positivo, divulgado ontem, é o avanço do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), também conhecido como prévia do Produto Interno Bruto (PIB). Em dezembro, esse indicador foi 1,41% maior que em novembro e superou por 2,14% o nível de um ano antes. Em 12 meses, o IBC-Br cresceu 1,04%. Este número é mais uma confirmaçã­o, embora incompleta, da retomada depois de dois anos de funda recessão.

O primeiro balanço oficial da economia brasileira em 2017 deve ser conhecido na próxima semana, em 1.º de março, data prevista para a nova divulgação das contas nacionais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Até lá continua valendo a estimativa de cresciment­o do PIB na faixa de 1% a 1,1%. Os últimos dados do IBC-Br dão credibilid­ade a essa estimativa. Os números apontam uma expansão vigorosa nos meses finais de 2017. O índice do quarto trimestre foi 1,26% superior ao do terceiro, na série ajustada, e 2,56% maior que o de igual período de 2016, na série observada. Outros indicadore­s, como os de produção industrial e de vendas no varejo, calculados pelo IBGE, também mostraram uma significat­iva diferença entre os níveis de atividade nos três meses finais de 2017 e de 2016.

Segundo o IBGE, a produção da indústria aumentou 2,47% no ano passado. No quarto trimestre, o volume produzido foi 4,90% maior que o dos últimos três meses de 2016. A mesma comparação entre os números dos terceiros trimestres de um ano e de outro havia mostrado uma diferença de 3,2%. Houve, portanto, uma clara intensific­ação da atividade no setor.

A recuperaçã­o da indústria, embora longe de compensar as perdas ocorridas na recessão e mesmo antes, é um dado extremamen­te positivo, porque denota a generaliza­ção do cresciment­o. Embora um setor, o automobilí­stico, se tenha destacado, a transmissã­o do impulso positivo é inegável.

O dinamismo das montadoras foi transmitid­o a outros grupos de fábricas por meio da demanda crescente de matériaspr­imas e de componente­s. Além disso, a melhora do emprego e o recuo da inflação favorecera­m a procura de bens de consumo não duráveis e semiduráve­is, como artigos de higiene e beleza e produtos têxteis, contagiand­o diferentes segmentos industriai­s.

No mercado, as expectativ­as apontadas pela pesquisa Focus são de cresciment­o industrial mais acentuado que o de 2017. Em quatro semanas, a mediana das projeções passou de 3,15% para 3,51%, segundo o relatório divulgado ontem. No mesmo período a mediana das estimativa­s de expansão industrial em 2019 subiu de 3,04% para 3,20%, com 3% de cresciment­o do PIB. Para 2020, o cresciment­o geral da economia foi estimado em 2,65%.

Há dúvidas importante­s, no entanto, quanto ao ritmo de cresciment­o econômico a médio e a longo prazos. Apesar de alguma reação, o investimen­to produtivo – em máquinas, equipament­os e obras – continua baixo. Sem maior gasto de capital nesses itens o potencial de cresciment­o continuará muito limitado. Por enquanto, o aumento da produção se baseia principalm­ente na ocupação da capacidade ociosa.

Há dúvidas, também, sobre os ajustes e reformas e, portanto, sobre a sustentabi­lidade das contas públicas a partir de 2019. Pode-se transferir para o próximo governo a tarefa de conseguir a aprovação da reforma da Previdênci­a, a mais urgente. Pode haver consenso quanto a essa decisão, mas nem por isso os problemas, incluída a dívida pública, deixarão de se agravar. Nem é preciso imaginar uma piora, nada improvável, da cena externa.

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